O PODER DO AGORA
Pedro nasceu temporão, filhos de agricultores pobres e analfabetos, moradores de um município distante, do interior do estado. Logo depois de nascer, em decorrência da dedicação exclusiva dos familiares à lavoura, o bebê iniciou uma vida um tanto quanto solitária. Daí, que a imprescindível interação com a mãe e demais membros da família não decorreu de forma normal, o que lhe ocasionou um desenvolvimento motor e psicológico mais lento e tardio.
Como Glória, a mãe, não entendesse muito bem dessas coisas, passou a acreditar que o filho tivesse algum problema na cabeça e a dizer à vizinhança que o garoto era retardado
À medida que crescia, Pedro ouvia da própria mãe que era burro; que nascera para dar trabalho; que nunca seria nada na vida; que era um peso, um castigo de Deus.
Assim, asfixiado pelo estigmatizante rótulo maldito, foi para a escola. Estava com nove anos.
O ambiente escolar era um mundo estranho e chato. Nada ali despertava seu interesse e se assim era, não havia motivo para prestar atenção e aprender.
Enquanto os colegas estudavam, ele brincava, atrapalhava as aulas e a professora brigava com ele, mandava-o para fora da sala.
Dessa forma, o tempo foi passando... o primeiro ano, o segundo, o terceiro, o quarto e Pedro apenas decodificava mecanicamente o alfabeto. A professora já lhe dissera, mais de uma vez, que ele tinha problemas de aprendizagem, nunca aprenderia coisa alguma, nunca seria nada na vida. O melhor a fazer era sair da escola, assim deixaria de incomodar. Que fosse ajudar os pais, na roça.
Sem perspectiva de sucesso, Pedro abandonou a escola, mal sabendo assinar o próprio nome e convicto de que, de fato, era burro mesmo; afinal, a professora nada mais fizera, do que confirmar o que sua mãe não cansava de espalhar aos quatro ventos.
Durante alguns anos, Pedro trabalhou com o pai, depois cansou e saiu de casa, à procura de melhor destino. Na busca incansável, fez de tudo, catou papelão, dormiu na rua e passou fome, sempre perambulando de cidade em cidade, até arrumar seu primeiro emprego fixo, num porto, de estivador.
Ao completar vinte e seis anos, já desesperançado, acreditou que terminaria seus dias como estivador e que esse era, definitivamente, o destino que lhe fora reservado. Então, parou para refletir sobre tudo por que passara e chegou à conclusão, em virtude dos trabalhos que era capaz de realizar no porto, dos elogios que recebia dos colegas e do chefe, de que não era burro. Portanto, se não era burro, poderia pleitear um emprego menos cansativo, que lhe possibilitasse uma renda capaz de conduzi-lo à constituição de uma família e à felicidade, por fim.
Automotivado, pela primeira vez sentindo-se inteligente e com o apoio incentivador da namorada, começou a estudar, à noite, até concluir os ensinos fundamental e médio. Como recompensa, recebeu uma promoção e passou a trabalhar no escritório da própria empresa, mas não parou de estudar. Graduou-se com louvor em administração, depois fez mestrado, doutorado, pós-doutorado.
Dr. Pedro, atualmente, é professor titular de administração numa conceituadíssima universidade.