Juntos
Foi encontrada pendurada com a corda no pescoço. Exatamente
no meio do quarto, pendendo abaixo do buraco da lâmpada no
teto. A polícia fazia o cerco na porta do quarto afastando
os curiosos. No chão estava uma criatura, clamando "não!"
repetida e pausadamente. Um garoto de mesma idade, com
lágrimas dos olhos ao chão. Dizia ao carpete que podia ter
evitado aquilo, que era sua culpa. Ela estava grávida, como
saberiam todos depois. E ele fora embora. Não era seu filho.
Nem ao menos sabia que ela estava grávida. A dois dias ele se
fora; cançado; não aguentava mais. Sabia que a saudade
seria a beira do insuportável; mas já estava beirando o
insuportável ao seu lado.
Não eram nada. Apenas amigos. Não tinham nada em comum.
Apenas carregavam um os problemas do outro.
O garoto continuava prostrado de joelhos no chão,
chorando copiosamente. Cabeça caída. Sentia a dor da saudade
eterna. E subita a dor aumentou perceptivelmente. Não era
mais a dor da saudade. A voz lhe sumia gradualmente,
engolfada pela dor do coração hiperpulsante. "Parece ter
dormido" pensaram alguns. O coração parou. Seguiria agora ao
outro mundo junto dela. Ou, se este for o único mundo,
seguiriam juntos ao esquecimento.