O AVISO.
Ele chegou meio que de surpresa, ninguém poderia dizer ou desconfiar que esta era hora dele chegar, sentou-se ali naquele banquinho, quer dizer; espécie de banquinho. No momento estava trajando de branco, roupa toda amarrotada, chapéu alvo assim como seus cabelos enrolados meio que sem pentear, meias e sapatos cheiravam mal, suado, cansando como se estivesse percorrido uma longa caminhada. Zé negrito permaneceu por alguns minutos mudo, não dizia uma se quer palavra, com a cabeça abaixada, mas ainda olhava por baixo da aba do chapéu, olhos vermelhos que mais parecia duas lamparinas incandescentes. Ele ainda parecia se esforçar para emitir sons ou gestos, querendo dizer algo e não conseguia articular nenhuma palavra, conduziu a mão entre a camisa e o paletó ainda trêmula e tateando procurando o bolso onde guardava seu pito que nas horas de ansiedade fumava prazerosamente. Zé Negrito conseguiu sacar seu cachimbo, olhou no reservatório percebeu que ainda existia uma pequena poção de fumo, no momento de acender bateu com a mão no bolso e percebeu que não tinha fogo, direcionou os olhares para dona Neném e fez um gesto de negativo, dizendo que não tinha como acender. Em meio aquela ventania do mês de agosto o sopro deste vento avivava ainda mais o braseiro que dona Neném usou para assar o bolo de fubá, caminhou alguns paços e na volta trazia uma brasa viva que ela carregava em uma colher de pau, Zé colocou a brasa no cachimbo e logo começou a soltar várias baforadas ao vento, já se percebia a grande satisfação naquele semblante negro de sobrancelhas encontradas, olhos pestanejavam vagarosamente parecia sonolência alem da respiração ofegante que soprava pelas aquelas abas avantajadas deste nariz e boca avermelhada descendente Africana.

Dona Neném estacou bem de frente deste nego veio e perguntou com bravura e insistência:

- Pronto meu caro amigo, o senhor poderia me dizer o que o senhor está me tentando comunicar?

Zé Negrito fazia com a mão um gesto para que ela se aproximasse com seus ouvidos, assim feito ele começou a soltar a fala, até que bem baixinho, mas disse para Dona Neném em sons claríssimos com palavras compassadas e Dona Neném ouviu nitidez.

-Eu morri.

Dona Neném arregalou os olhos e disse perguntando:

-Morreu?... Morreu como?... Você ta aqui, eu estou te vendo, como você explica isso? -

- Hoje ás doze horas do dia aconteceu a minha passagem, pode arrumar as crianças avisar seu marido e vá logo lá para minha sentinela, o velório já esta acontecendo á estas horas.

- Não estou acreditando, você ta aqui criatura.

- To e não to, você só ta vendo meu espírito.

Quando dona Neném retirou os olhares, o velho Zé Negrito desapareceu em meio a uma nuvem de fumaça, coisa misteriosa, só veio para dar o aviso.

05/07/2016/ Antonio H Portilho.
Antonio Portilho antherport
Enviado por Antonio Portilho antherport em 05/07/2016
Reeditado em 02/08/2016
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