Milord

“Allez, venez, Milord!

Vous asseoir à ma table;

Il fait si froid, dehors,

Ici c'est confortable.

Laissez-vous faire, Milord

Et prenez bien vos aises,

Vos peines sur mon coeur

Et vos pieds sur une chaise.”

(Piaf)

Como uma dança sem ritmo, como uma melodia sem cadência.

Nem a chuva é capaz de apagar os riscos e as setas que deixaram em mim.

Em uma manhã achincalhada; em um beco com muro alto. A comida insossa; a bebida bem amarga. O resto de diálogos curtos. Uma fúria contida. Umas poucas estrelas vistas da janela com grades. Só eu e mais um eu. Um reflexo. Existindo por existir, ou abreviando-se.

Teremos que trabalhar. Trabalhar-se-á a alma gravando vozes, emitindo sons difusos, fazendo uma recuperação do que somos. Um dia de cada vez- mamãe sempre dizia isso (quem sabe por que ela vivia um dia igual ao outro). Mais dos dias, mais das horas, mais credulidade.

A partir de amanhã não choro mais, não vivo mais assim, faço questão de me ajeitar. Eu vou me suportar de toda maneira. Eu só tinha que...Saí da terra vermelha para o terreno arenoso. Saí das casas baixas para os arranha-céus. Saí da madeira para o concreto. Saí das pedras para o asfalto.

Mais cores, mais sons, mais corrida pelos sonhos, mais amores partidos, mais felicidades cotidianas. Menos orações. Aqui sou mais um navegante em meio ao nada, em meio ao tudo.

Foi-se a comida de boralho. Foram-se as árvores tremendo de vento. Foram-se, também, as bergamotas no pátio e as carambolas na camiseta.

Ficam, as tardes. Somente tardes de ânsia e de descontrole. Aquilo que eu queria: descontrole para me acertar. Um acertar no peito, um ardor na carne. Uma profusão de meninice a não negar o EGO.