Mais um setembro

“Minha vida não daria um romance.

Ela é muito pequena.”

(Caio Fernando Abreu)

Um mate com a vizinha. Umas cuias a mais e eu tonto de cigarro, zonzo de sono. E um diazinho sem graça esvai-se tal qual o meu café velho escorre pela pia. Não viajarei, não procriarei. Amanha não é tarde demais? Projeto de busca para paragens de cores bruscas. Esclarecer de vez quem eu sou, afinal eu estou tão perdido em mim, que não consigo...

Escrevo sempre a mesma coisa, mas de forma distinta. Faço rodeios para dizer algo tão simples, mas é difícil, entende?

Saber que a felicidade está aí, em mim, tão pertinho, lá no fundinho, no mais visceral, no mais nodal, no mais... Feito quilogramas que se casam e pouco a pouco se amontoam e fazem surgir o peso, a massa.

Riscos?

Sim, riscos de machucar-se mais facilmente, de engordurar-se e de ficar cheirando a vômito, a coisa rejeitada. Toda vez que fechamos as asas e que não mais pairamos pelo horizonte. Todas as vezes, usamos a alma e ela vale feito liquidação.

Tudo.

Em tão pouco tempo, descobri...

“que se vai embora toda a minha ávida maneira de lidar com a realidade. a fantasia contando meus segredos, a fantasia me vestindo, a poesia sendo arlequim. apenas aparecendo, cega. examinando sem entender. entendendo os planos de um destino grosseiro.”

Sombras e perspectivas. Porque o amor é menos sólido do que se imagina. Ninguém disse que seria moleza. Ninguém me avisou dos perigos da intensidade. Porque enquanto não chega setembro, eu vou levando, errante. À espera das flores, das corolas cheirosas.

Novembro e o dia dos mortos impressionam-me. Fotografias no cemitério. Um dia eles amaram, foram amados, e o amor está lá nas lápides bem lavadas, nas coroas, nas velas.

Não quero a sujeito desse fundo já gasto, desses restos e dessa podridão nas bordas, sentidas dia a dia naquilo que alguns chamam de Pós-Modernidade.

“sempre. unicamente um suspiro de adeus. um inábil artesão e sua tecitura. Um inábil músico e sua tessitura.”

Novo bloqueador. Poxa, quem sou eu então? Um todo enodado como fumo de corda?

A rua na minha porta. A porta na minha casa. Meu quarto é novo e minha escrivaninha velha é velha.

Só sobraram o isqueiro e nenhum cigarro e esse eu ainda esperando por setembro.