Ornitorrinco

Com o inverno chegando, meu nariz já começa a dar sinais, muitos espirros, coriza, fazer o que?

Pensei então consultar um especialista, mas como se chama o médico que trata do nariz? Pensei, pensei e pensei.. - Ah! Ornitorrinco. Fui até o postinho do SUS e marquei uma consulta. Sei que vão dizer que primeiro teria de passar por um médico geral, mas a história é minha, e fui direto na mesma hora atendido.

A médica me olhou e pergunto qual era meu problema. Disse que vim procurar um médico especialista, um ornitorrinco. Ela então me olhou, e com um falso sorriso simpático, pegou a caneta e escreveu num bloquinho, e disse: - Tome aqui o endereço. Lá tem o que procura.

Sai do postinho fiz sinal para um táxi, e uma garotinha que estava do lado de sua mãe disse: Olha mãe! O moço que vem no postinho anda de táxi! Olhei para mãe e tentando me explicar disse: Minha senhora, meu Camaro amarelo, foi confiscado pela PF e agora ando de Táxi. Sabe como a vida é dura! Esta tua filhinha é uma simpatia, depois compro um pedacinho de pizza para ela. Ela me olhou com raiva bateu seu pezinho e disse. Não quero nenhuma pizza. Bem que falei para o papai Noel que não queria aquele presentinho de natal, mas ele insistiu em me dar ações da Petrobras. O que o moço acha estou fazendo aqui também?

Entrei no táxi, e entreguei o papel com o endereço, e disse: toca pra esse lugar.

—Mas em que aeroporto o senhor que ir?

—Ora! Nenhum, só me leva neste endereço.

—Acontece que o lugar que o senhor deseja ir fica na Austrália.

—Austrália! Tem certeza?

—Tenho sim.

Neste caso vou fica no centro.

Como queira, mas a situação no país esta ficado insustentável.

Como assim?

O senhor não assiste ao noticiário na TV?

Não muito.

O homem da antena, sabe de muitas coisas.

Mas o que um antenista sabe tanto sobre a situação político/ econômica?

Não é esse não. Aquele que apresenta o noticiário na TV.

Tá bom é dai?

Meus colegas já não estão recebendo mais em reais?

Recebem em que? Dollar ?

Pode ser, ou em Euros, mas se o senhor tiver alguns tomates aceito como moeda.

Faz o seguinte, retorna que vou ficar no aeroporto internacional.

Chegado lá, comprei a passagem, com escala no Japão. No Japão quis sair um pouco, mas um policial me pergunto o por quê de minha viagem ao Japão. Disse a ele que era só de passagem, e meu destino seria a Austrália. Desconfiado pergunto o que iria fazer na Austrália, com muita paciência e calma, contei que faria uma cirurgia no nariz. - O senhor deve ser artista, e quer ficar mais bonito para os fãs, não é mesmo?

Não! Sou professor do estado.

Em que país?

Do Brasil

Coitado! Pode ir, mas antes só por curiosidade, o nariz de qual artista quer ter?

Ora! Isso é pergunta! Vou lá saber! Bom acho bonito o nariz do Tin Tin.

Bom para quem não sabe, tintim é... aquilo mesmo que estão pensando.

Coitado, salário de professor é tão baixo, que vai ser ator de filme erótico.

De volta ao aeroporto, tomei o voo com destino a Austrália. Chegando lá um outro policial me barrou, perguntando o que iria fazer na Austrália. Disse que teria uma consulta como ornitorrinco.

Como pretende fazer isso?

O nariz não combina com o rosto, sabe! Vou tirar um pedaço.

Sabe que estará infringido as leis da Austrália, e neste caso deverei prendê-lo.

Nossa que leis absurdas vocês têm!

Absurdo é o senhor vim até nosso país para cometer barbaridades.

Barbaridade coisa nenhuma! Saiba que sou professor!

De que lugar?

Brasil!!!

Ah, entendo, neste caso está explicado, e o consulado nos passou a informação de que professores brasileiros estão passando por estresse intenso, e por questões humanitária não deverá ser contrariado. Por favor, seja bem-vindo a Austrália.

O endereço me levou ao Zoológico, lugar estranho para marcar uma consulta, mas como estou na Austrália fui procurando até encontrar uma plaquinha “ornitorrinco”. Ah, era lá mesmo, e os médicos daqui apreciam a natureza, nada de consultórios convencionais. Tentei abrir a portinha, e me apareceu o guarda do Zoo. - Ei! O que estar fazendo!

Eu? Só marcar uma consulta com médico ornitorrinco.

Um engraçadinho? Queira me acompanhar até a saída.

Só saio depois da consulta. Não vim do Brasil a passeio.

Ah o senhor é brasileiro, estou começando a entender. Não vá me dizer que é professor?

Só sim. Como sabe?

Nada não, apenas palpite. Faça o favor de entrar.

Ao entra, bati palmas, assoviei, e nada do médico aparecer. Estava quase desistindo da consulta, e ai apareceu algo muito estranho, não era um pato, nem um castor, só poderia ser ele. Ai fiquei indignado, e pensei. O que é um país de primeiro mundo, não é mesmo?

Enquanto ainda não saímos da colônia, eles já estão conquistando o espaço sideral.

A gente trazendo de fora médicos cubanos, e eles extraterrestres. Um médico extraterrestre, quem diria.

Olhei para ele esperando, pelo menos um cumprimento, mas fico ali ignorando minha presença.

Perdia paciência e logo fui dizendo: - Vim de tão longe, e é assim que me recepciona?

Tirei ele do chão. Fiquei cara a cara, ou melhor a bico, dei-lhe um chacoalhão, e ele partiu para a briga, grudou em meu rosto, arranhando e desfigurando todo meu nariz, e ai eu disse: - Tá bom, não precisa ser tão rápido assim na cirurgia, e sem anestesia. Nunca vi cirurgia tão rápida assim, e logo me levaram numa ambulância para fazer o curativo.

Ali parece ser tudo ao contrário, me deram anestesia depois, que só doía mais ainda antirrábica e antitetânica.

Tomei o avião no dia seguinte, e no Japão por infelicidade encontrei com o mesmo guarda.

- Que bom já fez a operação. Posso ver? Abri com cuidado e ele admirado e rindo da minha cara disse para avisá-lo quando o filme estrear. Realmente fico tin-tin.

Bom, quando voltei já havia terminado a greve dos professores, e na escola logo o diretor me chamou.

Pensei que fosse para dar as boas-vindas ao meu retorno, mas não foi bem isso.

- O senhor com esse nariz, não pode dar mais aulas, isso é uma indecência e atentado ao pudor.

Tentei explicar, mas um aluno meu abri a porta e fico me olhando.

- Olha o professor ficou com o nariz da porca Peppa. Que maneiro!

- Bom, já que os alunos não associaram seu nariz com outra coisa, pode fica, mas não deixe de fazer a barba, se não poderá ficar nítida a semelhança com aquilo, bem já sabe o que.

Minhas aulas a parti dali foi um sucesso, mas depois de uns dias recebi uma intimação de uma revista infantil reclamando seus direitos autorais.

Por Airton Parra Sobreira