Chalé com biscoito

“e ler nas entrelinhas

os abismos de nós mesmos”

Paulo Leminski

Um pequenino menino, cabelos louros e pele alva. Assegurava-se nas constantes puxadas na calça do pai. A cigarra que buzinava sua face, entre o ir e vir da lâmpada exercia um encanto no menino, senhoreando-o.

Eis uma cigarra, cítara sagrada das tardes de sábado (ensaboadas no tanque, duas chinelas velhas). Eis a cigarra, das noites natalinas, e dos ingás verdes recolhidos no poente.

Os olhos do lourinho seguiam as asas da cigarra. Entre choques e batidas, é então que ocorre a caída.

Agachado, observando a cigarra, um biólogo exemplar. A curiosidade foi maior que o estudo do lourinho. Cutucou com a ponta do pé.

A cigarra alça vôo, a cigarra vai, a cigarra vem, a cigarra não pára, ela resvala, ela pedestre, ela cipreste. A saia da moça ruiva que pagava contas no caixa, ganha uma linda presilha cor mármore.