A lua para Euclides
Euclides fecha a janela do quarto, afinal, os fundos do apartamento podiam fatigá-lo demais naquele momento. O habitar estava ausente, apenas ele, porquanto estava, ele, ausente, também. Banhar-se não, alimentar-se não. Era preciso ler-se naquele instante. Dois passos e o banheiro: lixeira transbordando, chão tingindo a barro. Euclides deixa Serge Gainsbourg voar-se-lhe. Do banheiro a voz rouca atira melancolia pelo restante do apartamento. Euclides borra os lábios com delineador vermelho, borda pares de círculos pelo rosto, com base líquida, com pó moreno. Euclides cheira-se, olha-se, retira-se. Ao quarto, volta. Voltas e voltas de incompreensão. Coloca um lenço vermelho por sobre os ombros, perfuma-se deliciosa e delicadamente e dança, sozinho.
Transformar é transtornar. Sinonimicamente certeza.
“Acho que devo estar enlouquecendo outra vez, de leve, mas louco, louco assim, de doer-me.”
“Onze meses tentando enfeitar a vida, e no depois, descobrir que enfeites são pisoteados, embaralhados, empurrados pela chuva e então, decepados pelas avenidas das grandes cidades. Foi em vão.”
Euclides abre a janela do quarto. Plaft. Sangue. Euclides vive bem, agora.