O nascimento do 'mal'
EM UM PLANETA LOCALIZADO ALÉM DAS GALÁXIAS QUE ESTÃO POR TRÁS DAS GALÁXIAS QUE A VISÃO DOS NOSSOS MAIS PODEROSOS TELESCÓPIOS PODE ALCANÇAR, existia uma espécie humana parecida com a nossa. Mesma anatomia, mesmas formas de se comunicar, tecnologias bem parecidas. Diríamos que estaríamos vendo talvez uma projeção do que a humanidade irá se tornar algum dia. Mas havia algo que diferenciava essa civilização da nossa atualmente: A organização social. Lá, todos os seres humanos eram extremamente parecidos um com os outros, todos tinham a mesma cor, o mesmo cabelo e os mesmos traços físicos. Além da aparência similar, estes outros humanos faziam questão de se vestir como todos os outros, andar e falar como todos os outros e principalmente de pensar o que todos os outros pensavam. Ninguém nunca tinha violado aquela harmoniosa igualdade, nem desejava. Se alguém por acaso, ou por pisar desaplumado, por exemplo, desse um passo diferente da forma de andar de todas as outras pessoas, era olhado com olhar de recriminação e julgamento por todos os outros e já não bastasse estar diferente por ter errado a pisada, ainda estaria diferente por ser o único a estar sendo julgado, rapidamente julgava a si mesmo para voltar a estar igual, e após uma respiração profunda – que o diferenciava pela última vez - voltava a fazer o que os outros estavam fazendo, retornando assim, ao perfeito equilíbrio daquela civilização.
Toda manhã era igual, às sete horas todos os pais saiam para trabalhar, todas as crianças saiam para estudar e todas as mães ficavam cuidando da casa, todos os avôs iam consertar alguma coisa e todas as avós iam costurar roupas para os seus netos. E era sempre assim, não havia finais de semana, pois a rotina não podia ser quebrada, uma rotina quebrada é como uma engrenagem que se solta de uma máquina, capaz de fazê-la se descontrolar completamente. Uma rotina quebrada mudaria hábitos e mudar, naquele planeta, era algo extremamente ruim. Toda tarde, ao final do expediente, os pais e as mães levavam seus filhos ao parque para brincarem em algum playground, todos faziam isso e os parques ficavam cheios. Enquanto os pais assistiam sentados nos bancos. As crianças tinham um raro momento de diversão. Mas era regra, quando a primeira estrela surgia no céu, todos começavam a se recolher para o jantar. Parecia ser apenas mais uma tarde igual às outras, mas naquele dia, a pequena Maria, de apenas 6 anos de idade, estava se divertindo tanto no balanço, que quando chegou a hora de ir para casa, ela simplesmente não queria ir. Estava tão divertido, porque não poderia ficar mais dez minutinhos no playground? Ela perguntou. Porque todos já estão indo embora, responderam seus pais. Contrariando todas as outras crianças, a menina fez uma cara de choro e continuou no balanço, parada, comovidos com a tristeza que se apresentara no rosto de sua filha, o pai e a mãe, disseram-lhe que ela poderia brincar mais um pouquinho. Ela sorriu e voltou a balançar. Os outros, a um passo de irem embora notaram aqueles estranhos se diferenciando, e quanto mais estrelas apareciam, mais eles estavam contrariando às regras. Os que passavam olhavam para aquela família de desordeiros, julgando-os, tentando força-los a voltar a equilibrar a engrenagem que ameaçava se soltar. Os pais da menina baixavam a cabeça ou evitavam os olhares dos demais, mas não precisaram disfarçar muito tempo, a alegria de sua filha os contagiou e logo também estavam se divertindo.