Só uma Paisagem Simples
Acolá do horizonte, o Sol que esbravejava fogo ao meio-dia, agora, pede arrego e vai se deitar detrás das Serras do Melão: eis que é o cair da tarde serena e cá estou sozinho meditando diante de paisagem tão bucólica, sentado às margens da alma do Rio Trairi, que jaz em areal ressequido pela seca do agreste potiguar. Olho para cima da serra, raios multicores deslizam através de nuvens branquinhas, lindas em tons suaves, elas dançam a valsa do crepúsculo. Pelo arredor, brisas sussurram suavemente por entre os galhos da algaroba apaziguando os cantares avoaçados de passarinhos que se abraçam pelo calor dos pequenos ninhos. Sinto a natureza dos rincões deste chão chamado Santa Cruz do Trairi...
À minha esquerda, ali do outro lado da beira do sobrevivente corpo d’água do Açude, depois do aboiar do vaqueiro, ouço o balançar de chocalhos tangendo a boiada enfadada pelo terral pedregoso. Aproximando-se do curral, o olhar fundo do gado muge por uma migalha de esperançoso capim verde, quiçá a ração última antes da noite comprida. No cocho, apenas, o cacto xique-xique torrado está como derradeiro alimento para aquecer os ossos dos animais durante a gélida madrugada.
O límpido céu azul sertanejo vai ficando pretinho a contrastar com o brilho neve da estrela de Davi: já é hora do ângelus. Cheiro de cuscuz e café vem lá da casinha marrom chamando o trabalhador do campo para se lavar, jantar e fazer a oração de agradecimento pelo dia vivido.
Uma voz cavernosa interrompe a cena: é vovô chamando o meu nome. Hora de ir jantar também.