A longa jornada
Corpo alquebrado, suado. Cenho franzido, mãos calejadas. Os pés quase fraquejavam e a longa jornada mal começara. Sua boca seca não articulava nenhuma palavra. Seu coração sofrido, calara. Á frente um campo ressequido, quase desértico.
Sulcava a terra com a enxada nas mãos. Como lágrimas, o suor escorria e molhava seu rosto. Não pensava, olhos fitos na terra. As pernas tesas mal suportavam o peso do corpo, há muito não se alimentava. O organismo fraco não o abatia. A enxada toca numa pedra e dos olhos lhe escapa um lampejo de dor. A terra, que há tempos lhe dera o sustento, se fundia ao seu coração num lamento.
O dia terminara. Passos lentos, a enxada nos ombros, o andar cambaleante, os olhos vazios... A noite lhe traria o lenimento para o corpo cansado. Há muito a solidão lhe fazia companhia, o deserto também chegara ao seu coração. A casa jazia vazia e a noite trazia uma lembrança sofrida, doida. Os olhos fitavam o horizonte negro e sombrio. As estrelas no céu, ínfimas luzes, não conseguiam clarear seus olhos débeis. Não sentia cansaço, seu corpo nada sentia. Não lhe importava o alimento no fogão, jogara o seu corpo cansado na cama. O sono era o único consolo que queria.