" O NOME DA BONDADE: NINA"
O título é apropriado, fato que aconteceu na própria família. Lá pelo ano de 1975, não sei exato. O meu cunhado Valdir, casado com Olga, minha irmão mais velha, ele operário da Cia. Geral de Industria e ela professora primária. Na época já tinham os quatro filhos, Valdirene, Anelise, Junior e Nina. esta última portadora de um deficiência mental, que recebeu muito carinho e conseguiu se sobresair. Valdir tinha um sonho, comprar um carro. Foi que comprou uma Brasília velha, sem documentação, toda esgualepada (como diria Olivio Dutra). Ele também não era portador da carteira de habilitação, aliás mal sabia dirigir. Dava umas voltas pelo quarteirão e por isso ficava. Certo dia resolveu ir visitar a irmã Eloina que morava em Viamão, seria no domingo, toda familia estava convocada a essa viagem. Não era muito distante, porém, a Av. Bento Gonçaves que interliga Porto Alegre à Viamão, é muitíssimo movimentada. Pronto, chegou o dia "D", preparam-se todos e foram. Ao seguir pela rua Vidal de Negreiros, Valdir entrou na Av. Bento Gonçalves como se fosse comer pitanga na beira do arroio, não olhou para lado nenhum, só foi. Deu sorte, nada aconteceu, mas foi uma releta russa ! Seguindo pela dita avenida, passou pelo carrefour e foi indo ao aproximar-se de Viamão defrontou-se com a Policia Rodoviária Estadual, muito exigente, ouviu um apito estridente e aí percebeu o guardinha. Parou bruscamente ali mesmo, no meio da pista de rolamento, pois alí mesmo, levou a primeira "mijada". O policial determinou que Valdir estacionasse corretamente, no lugar adequado para isso. Assim fêz.
Disse o Guarda: Bom dia cidadão
Bom dia - respondeu Valdir -
A Filha Nina também cumprimentou o guarda.
Os documentos do veículo, por favor, sua identidade e carteira nacional de habilitação. - pediu o policial -
Valdir ruborizou e começou a bater nos bolsos, como se tivesse procurando os documentos solicitados.
Olga intrometeu-se: Diz logo que tu não tens documento nenhum, não vê que não adianta enrolar ?
Que mãe ? (Valdir chamava a esposa de mãe)
Olga virou para o outro lado e ficou calada.
Pois é seu guarda, eu ainda não tirei a CNH e o carro comprei agora, sabe...deculpe mas eu...Valdir gaguejava nervoso.
Disse o guarda: Desçam todos.
Foi aquele tumulto, Olga já desceu espraguejando o mundo.
Agora abra o capô, por favor !
Nina correu e deu um beijo e um abraço no guarda. Esse, constrangido correspondeu, fez cara de quem não esperava por aquela situação.
Veja o triângulo, o estepe e o macaco, por favor ! - o policial pediu diretamente ao Valdir, desvencilhando-se da menina Nina.
Valdir então, muito nervoso e preocupado, mesmo sabendo que o carro não possuia nada daquilo, fingia procurar, enquanto o restante da família aguardava na lateral da rodovia.
Nina nessa altura voltou a abraçar e beijar o policial, que por tratar-se de uma criança, correspondia.
Nisso Olga aproximou-se do veículo e queria ajudar a procurar, de longe avistou uma caixa com um aparelho de som automotivo, novo.
Que é aquilo ali, Valdir ?
o quê mãe ?
Aquilo ali idiota ! não está vendo ?! Tá te fazendo de "salame" ?
Áh !!! - disse ele - é um rádio para a nossa brasília, olhando a esposa de soslaio, sabia ela iria cuspir fogo.
De fato cuspiu. Nossa brasília uma ova !!! - Mas quem mandou comprar isso idiota ?! retorquiu ela sem se importar com a presença do policial.
Nina novamente abraçou e beijou o guardinha, que nessa altura do campeonato já estava de saco cheio com tudo, principalmente com os adultos daquela família, mais do que "busca pé".
Alí o casal brigou por algum tempo e o policial passivo, assistindo tudo. Volta e meia Nina lhe dava mais um beijo e um abraço. Valdir e Olga esqueceram literalmente onde estavam, porque estavam e, mais grave, não tinham noção da encrenca que haviam se metido.
Valdirene, Anelise e Junior continuavam a esperar, assistiam tudo aquilo com muita vergonha, gesticulavam toda hora pedindo que seus pais parassem de pagar aquele "mico".
Nina voltou a atacar o guarda.
Nisso ouviu-se o apito estridente do guardinha. Parem com tudo agora mesmo !! - gritou o policial tentando botar ordem naquela bagunça.
Todos os veículos que transitavam na rodovia davam uma reduzida na velocidade para tentar entender o que se passava ali, bem em frente o posto policial rodoviário estadual de Viamão.
Escutem - enfatizou o policial - Entrem todos nessa porcaria de carro e vão embora. - continuou ele - Eu, vou assumir a bronca, decidi que vou doar esse carro a essa menina, que ainda não sei o nome.
Nina, gritou ela. meu nome é Nina.
Certo. - agradeceu ele olhando generosamente para a menina -
E o Senhor, seu Valdir é um irresponsavel. Nunca mais faça isso. O Senhor poderá ter problemas sérios. Entendeu ?
Ele respondeu fazendo sinal de concordância com a cabeça.
Valdir já sentado ao volante (fora o primeiro a entrar no carro) olhava para o guarda com os olhos arregalados, permanecia mudo e estático.
Digo mais - chamou a atenção o guardião das estradas - Vocês não voltem por aqui, se voltarem prenderei esse carro e o Senhor também, tá entendido ?
Sim Senhor. Desculpe. - Valdir conseguira balbuciar poucas palavras -
Mãe ?! Sangue fede ?
Ainda que fazer piadinha, idiota !
Nina ainda atirou pela janela do carro mais um beijinho para o Policial, que devolveu.
Criança cativante essa - o guarda falara consigo mesmo -
Em casa tu vai ver só, viu Idiota !! foi nos meter numa situação dessas, seu irresponsavel.
Ô mãe, domingo eles nunca "atacam", nós não damos sorte,só isso. - respondeu Valdir tentando amainar a raiva de Olga -
Vamos, vamos embora !! - apressou a esposa -
Para finalizar, Valdir e sua "trupe" retornaram à Porto Alegre por Itapuã, Belém Velho, Belém, Novo, Tristeza e depois Partenon. O triplo da distância mas não passou em frente ao posto policial de Viamão. A moral da história está no coração puro e bondoso de Nina, cujo título deixa claro, "O Nome da bondade: Nina". (Uma homenagem à minhã querida irmã Olga, minha segunda mãe).