O vagão vazio.
O vazio também é um tipo de sentir.
O sentir de um vagão que nunca pára, mas sempre está preenchido.
Se não por pessoas, por ar e poeira.
Um todo de significados que a motorista ignora carregar.
A redundância se espalha formando crosta resistente sobre o incômodo que leva aquelas mãos a se manifestarem.
O coração precisa ser ouvido, mas a mente tumultua qualquer clareza.
É o corpo sábio da motorista denunciando suas necessidades.
Ela sabia que não poderia deixar de seguir em frente pelos trilhos, mas também não poderia mais carregar o peso do conteúdo ignorado daquele vagão.
Percebeu que nas pequenas paradas de seu caminho, enquanto as pessoas entravam e saíam de seu trem, poderia entrar em contato com o seu vagão misterioso.
Medo e ansiedade catalisavam o seu combustível, fazendo-a se mover com solavancos em todas as direções.
Conheceu passageiros que tinham um conhecimento interessante sobre o seu instrumento de viagem e trabalho.
Resistia aos seus conselhos, mas em um segundo momento fazia da crítica sua evolução.
Quando se deu conta, o procurado vagão estava a sua frente.
Colocou a mão hesitante no trinco e a porta se abriu.
E o vazio transbordante demonstrou toda a sua razão de ser.