Seios Saltitantes III

E como sonho bom acabou, como um sorriso passou.

Acordei sentindo um sabor saudosista, coisa que não é minha. Me levantei e senti a ressaca do vinho doce.

Estava no metrô... Como fui parar lá? Ainda mais com o caderno na mão.

Ela me olhou através daqueles óculos ovais pretos, com suas duas sacolas de compras.

Enquanto eu estava longe de casa, ela talvez não.

Tinha um vestido comprido, preto, bem comum. Um colete cinza escuro tampando meus desejos, estava sentada num banco próximo olhando para mim.

Então ouvimos todos:

- Próxima estação, Liberdade.

Levantou-se e caminhou até a porta que estava de frente a minha, e de perfil, virou o rosto para mim, olhando para meu caderno e disse:

- Vai descer ou vai continuar escrevendo?

Eu sorri de volta, olhei para ela procurando enxergar melhor como ela era. Vi melhor o desenho do seu corpo.

Ela devia ter por volta de trinta anos, das pernas não se via muito pelo vestido, tinha os quadris largos, meio gordinha (do jeito que o diabo gosta), braços cheinhos, pescoço e rosto agradáveis, e o principal, o carro chefe: os seios medianos, do tamanho de uma laranja madura.

Era toda bonitona com aqueles óculos ovais, de pele branquela como quem gosta de fugir do sol, e um corte curto nas madeixas castanhas com luzes loiras.

Nunca soube seu nome, e acho que nem vou saber.

Muito menos revê-la.

E ela estava olhando pra mim, esperando nos últimos segundos de porta aberta a minha resposta. Queria me escutar antes daquela porta fechar.

Eu estava meio zonzo do sono e da ressaca, e ela já estava bem acordada aquela hora da manhã.

Continuei olhando para ela, para aquelas laranjas maduras mal escondidas enquanto ela carregava suas duas sacolas de compras.

Então tocou o apito.

- Vou ficar escrevendo.

- Você é escritor?

- Eu tento...

Minari
Enviado por Minari em 05/11/2012
Código do texto: T3969434
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