ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: ALI O SILÊNCIO, ALI A SOLIDÃO... (89)
ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: ALI O SILÊNCIO, ALI A SOLIDÃO... (89)
Rangel Alves da Costa*
A pergunta feita por Crisosta fez a visitante logo perceber que já se aproximava do desfecho de sua missão. Ao menos em parte, pois a outra continuaria dependendo dela, da própria moça. Eis que diante dos fatos passa a valer o ditado afirmando que não adianta Deus fazer tanto diante daquele que insiste em desfazer por conta própria. E a mensageira continuou:
“Quando Deus disse ‘Que ela venha a mim!’, chamando o seu corpo à sua presença, foi o momento primordial de tudo. Estando diante dele a sua presença tanto espiritual como física, logo decidiria se lá mesmo findava com o seu corpo e libertaria somente o espírito, ou colocaria novamente o espírito dentro do seu corpo e a enviaria de volta, de modo a cumprir seu destino na terra, porém desde que surgisse a renovação, a transformação em você. E como seria tal transformação? Ora, minha linda, nada mais que você, aqui na terra, deixar de insistir em viver se martirizando, trazendo dores e aflições desnecessárias ao seu coração. Lógico que ele sabe de suas perdas e do seu sofrimento, mas também conhece o limite desse sofrer pelos entes queridos. E chega um ponto que é a vida própria da pessoa, e não mais a dos que se foram, que deverá subsistir. Os que se foram estão sob os cuidados divinos e eternamente colhendo dos frutos bons semeados durante a vida. Portanto, chega um ponto que você deve refletir sobre sua vida, sobre sua missão por aqui, como pretende seguir adiante, o que deseja como felicidade. E você estava desprezando essa coisa bem simples, ficando dia e noite na escuridão da angústia. E quando Deus decidiu que não era a vez de ter confirmada sua morte, optando pela eu retorno para cumprir sua missão, o fez não para que continuasse como vivia, mas para ser outra mulher...”.
“Então, eu realmente morri e Deus me despertou para a vida novamente?”. Perguntou Crisosta, ao que a outra respondeu: “Não minha filha, não, você não morreu. Aquele estado de quase morte foi uma providência divina, apenas um meio para que até ele chegassem separados o seu espírito e o seu corpo. Diante do trono, os deixaria separados para sempre ou não. E o que ocorreu foi que Deus ordenou a sua volta, corpo e espírito conjuntamente, mas não sem antes determinar que anjos guardiães dos espelhos levassem você a cada um dos portais...”.
“E para que?”. Quase grita a nervosa anfitriã. Contente com andamento dos fatos, a visitante respondeu que os portais são divididos em dois grupos. No primeiro grupo estão os portais das graças da vida, e no outro os portais das angústias da morte. Mas aos guardiões dos espelhos não foi permitido levá-la até o segundo grupo, mas somente diante os portais das graças da vida. “E por quê?”. E dessa vez ecoou o grito vindo da aflita mocinha.
“Ora, minha filha, por dois principais motivos. O primeiro porque você não havia morrido e muito menos como pecadora, e o segundo porque Deus não queria que colocassem diante do seu olhar um reino de sofrimentos. Ordenando que fosse levada até os portais do outro lado, os das graças da vida, teve a intenção de lançar-lhe ao olhar coisas belas existentes na vida e que você estava se omitindo ou esquecendo de enxergar. Então é isto, os bons portais fazem com que a pessoa sinta, como se estivesse dentro de espelhos, uma série de coisas boas a se fazer e a se viver na vida...”.
“Então, o que eu vi diante desses portais?”. E sorrindo com infinita graciosidade, a querubim falou:
“Lá estava você, linda, bela, sorridente, feliz, contente, cheia de encantamentos para com a vida; lá estava você viajando, caminhando, correndo, brincando; lá estava você caminhando entre pessoas, gesticulando, cumprimentando, indo ao encontro de alguém; lá estava você abrindo uma porta, saindo contente, abrindo os braços, agradecendo a vida, falando com o sol, regando flores, conversando com elas, escrevendo coisas nos troncos das árvores, colhendo folhas secas e garranchos para fazer enfeites; lá estava você esperando alguém, avistando alguém, correndo para o abraço, cheia de contentamento, feliz pela chegada desse alguém amor...”.
“Amor, alguém amor. Eu vou amar?”. E a desconcertada moça quase não acreditava nem no que perguntava.
Continua...
Poeta e cronista
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