ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: ALI O SILÊNCIO, ALI A SOLIDÃO... (88)
ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: ALI O SILÊNCIO, ALI A SOLIDÃO... (88)
Rangel Alves da Costa*
“Primeiro me explique tudo sobre os tais portais do céu, somente depois pode falar sobre o que encontrei adiante deles”. Afirmou Crisosta enquanto se voltava novamente para a visitante. Esta começou a procurar as palavras mais fáceis para falar sobre o assunto, de modo a ser facilmente entendida. E disse:
“Como eu poderia começar a falar sobre os portais do céu? Acho que seria melhor começar pelos exemplos para depois falar sobre definições. Pois bem, então vamos lá moça linda. Você vê que mais adiante estão uma mata fechada e pelos lados os descampados com poucas plantas, poucas árvores e mais mato rasteiro, não é mesmo? Se você quiser entrar na mata então vai ter que primeiro passar por aquelas primeiras árvores e plantas. Daí que aquela vegetação adiante é o portal para a mata, a porta que deverá ultrapassar para seguir adiante. Outro exemplo. Na frente de sua casa há uma fachada, e nesta fachada o espaço da porta, e na porta a madeira estendida de lado a lado e que as pessoas chamam portada. Então, para entrar em sua casa terá que passar pelo portal ou portada, que é o lugar onde a porta fica assentada...”.
“Estou entendendo bem, mas aqueles portais do céu que você falou?”. Indagou a anfitriã. A visitante esboçou um sorriso e continuou:
“Falaremos já sobre isso, sei que está apressada, mas espere só um pouquinho. Vamos só fixar bem o que seja portal. Assim, portal é a entrada principal de qualquer lugar; é a fachada, lugar por onde se entra; é a porta de entrada para um lugar que alguém vai visitar. Por consequência, fala-se muito em portal do paraíso, significando uma vida vivida na justa medida a ser recebida por Deus nas graças do céu; em portal da felicidade, significando ações que possam alegrar ao coração e prazer na vida; em portal da sabedoria, significando o esforço do indivíduo para, através do estudo, da experiência e do conhecimento, tornar-se respeitado no meio em que vive. E por aí vai. Quando fui enviada do céu para cumprir esta missão ao seu lado, certamente que entrei no portal da vida terrena, depois no portal da sua vida. E mais tarde, quando para lá retornar, entrarei novamente pelo portal do céu. Os que falecem e, pela sua conceituação na vida terrena, são acolhidos pelo Pai, entrarão pelo portal do céu. E lá, observando-se novamente os merecimentos de cada um, poderá ser encaminhado até o portal do paraíso. Entendeu bem essa parte, bela moça?”.
E Crisosta, ávida para que a visitante chegasse logo onde queria, disse apressada: “Sim, sim, claro, estou entendendo bem. Só falta...”. E antes de terminar a frase, o anjo querubim, com um sorriso aberto no rosto, foi logo falando: “Só falta falar nos portais do céu, não é isso mesmo? Então vamos lá...”.
Segurou no braço da anfitriã chamando-a a dar voltas enquanto falava. E lentamente as duas se puseram a caminhar ao redor. E nesse momento a voz da visitante parecia soar de uma forma diferente, mais doce, mais angelical, como se cada palavra dançasse na brisa, ecoasse, brilhasse no ar, estivessem sendo desenhadas ao entardecer.
“Veja bem Crisosta, quando você caiu desacordada, parecendo realmente morta, pois sem respirar ou dar qualquer sinal de vida, apenas o seu corpo tomou a brancura dos profundamente desmaiados. O seu organismo não respondia a nada porque suas funções já haviam sido transportadas para o alto. Não as funções orgânicas, que continuaram num estado de paralisação, mas as funções espirituais, o sopro de vida. Então, quando tais funções espirituais se desprenderam do corpo e foram subindo, começaram a passar por uma espécie de triagem. Primeiro, o reconhecimento espiritual nas nuvens, depois a subida até outro estágio de depuração até ser levada à presença do Senhor. Foi neste momento, já depois de três dias desde o momento em que caiu naquele local como morta, que o Senhor lançou verdadeiramente o olhar diante do seu espírito. Durante toda a sua vida, tanto no passado como no futuro, Deus sempre esteve e estará presente ao seu lado, acompanhando em tudo, através do seu poder de onipotência, onisciência e onipresença, sem falar do anjo que mantém ao seu lado, mas foi somente naquele momento que sentindo seu espírito, avistou sua feição de quase morta, e disse: Que ela venha a mim!”.
“E foi então que fui levada até ele passando pelos portais, ou os portais apareceram depois?”. Indagou, e cuja pergunta já se mostrava como um grande passo para a compreensão de tudo.
Continua...
Poeta e cronista
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