ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: ALI O SILÊNCIO, ALI A SOLIDÃO... (84)
ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: ALI O SILÊNCIO, ALI A SOLIDÃO... (84)
Rangel Alves da Costa*
Olhando firmemente nos olhos de Crisosta, a que se apresentava como querubim acrescentou:
“Minha linda, entendo muito bem sua preocupação, por isso mesmo vou tentar explicar tudo, porém resumidamente, até mesmo pelo pouco tempo que disponho na sua companhia. Então veja se entende...”.
E caminhando novamente, ali mesmo pelos lados do carro de boi, foi fazendo os esclarecimentos necessários:
“Você já conhece muito bem o vínculo entre o anjo e o homem, que é exatamente em torno daquilo que você acredita perante o seu anjo de guarda. Mas para me aprofundar um pouco mais, tenho a dizer que anjo é um ser puramente espiritual, dotado de personalidade própria, superior ao homem e aos demais seres terrenos. Mas quando digo ser puramente espiritual não significa afirmar o anjo como incapaz de existir, momentaneamente, com aparência física e material. É-lhe permitida tal condição exatamente para agir perante os homens, diferentemente do que ocorre com o anjo de guarda. Este sim, vive com e na pessoa, não se transformando corporalmente, mas apenas agindo através de sua constante presença espiritual. A essência do anjo de guarda está na sensação de presença, de fé que o guardiado tem, na crença e na fé que ele o está acompanhando para protegê-lo sempre, guiá-lo, iluminá-lo. Quando você repentinamente muda e faz alguma coisa que se fizesse de outro modo lhe seria prejudicial, então essa intuição, esse alerta e esse guiar para outra ação foi obra do anjo da guarda. Do mesmo modo quando você se vê em dúvida, aperreada, tendo dois caminhos a seguir. Na oração você pede a luz para seguir pelo melhor caminho, e ao segui-lo, ainda que não seja o que desejava alcançar, será o sempre o melhor caminho que teria de seguir. Nisso tudo houve a ação, a intercessão do anjo. Mas a minha feição de anjo é um pouco diferente de anjo da guarda. Como disse, sou querubim, possuo ação mais ampla que os anjos comuns, recebo ordens e compartilho diretamente com a entidade divina. Ademais, como vê, de vez em quando sou encaminhada para cumprir missões especiais junto a pessoas também especiais, como acontece com você...”.
“Mas me fale mais sobre sua atuação de anjo querubim e por que diz que tem uma missão especial perante a minha pessoa?”. A essa altura, Crisosta já estava muito mais relaxada, mais segura, até gostando da presença da visitante. E esta logo procurou responder às indagações da anfitriã:
“Antes de seguir adiante, preciso dizer uma coisa que não deixei claro anteriormente. Os anjos, de forma geral, são mensageiros entre os humanos e a divindade. Por exemplo, quando numa prece você implora um favor divino, imediatamente o seu anjo de guarda se encarrega de transmitir o seu desejo. Sendo coisa boa, útil, justa, certamente será atendida. E muitas vezes é atendida sem que a pessoa nem mais esteja lembrando ou esperando, ou ainda quando ela pensa que aconteceu um verdadeiro milagre em sua vida. Assim, o seu anjo de guarda ouve a voz de sua precisão e procura obter ajuda lá em cima. Mas nem todos os anjos tem a mesma função. Aliás, anjos existem que têm mais poderes que outros e se voltam exclusivamente para determinadas coisas. A essa divisão entre os anjos chama de coros ou hierarquias angelicais. Na verdade, há entre nós uma certa disputa, pois alguns acreditam que os serafins são mais poderosos que nós, os querubins. Os serafins dizem que são mais importantes porque vivem na presença de Deus e são como seus assistentes; mas digo e repito que a ordem dos querubins possui função mais importante ainda, pois significam poderosos e abençoados. Poderosos porque são confiados por Deus para cumprir missões na terra, como eu faço agora, e abençoados porque nenhum outro anjo, aparecendo diante a pessoa num misto de estado físico e espiritual, entende melhor o ser humano e resolve melhor os seus problemas. Satisfeita? Então, sou uma orgulhosa querubim enviada por Deus para este momento ao seu lado. E não somente isso, mas principalmente ouvir você me falar daquela viagem que acabou de fazer...”.
“Ah, sim, a viagem! Mas qual viagem? Não sei nada sobre viagem, apenas que de repente sumi e apareci novamente...”. Disse Crisosta, ao que a visitante acrescentou: “Mas é exatamente para fazer você lembrar tudo que ocorreu na viagem que estou aqui”.
Continua...
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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