*Sinuca de Bico

Sinuca de Bico

A Bíblia Sagrada tem mais de 200 passagens falando sobre a fé e todas elas nos mostram a imprescindível importância desse sentimento.

Conta-se que, há muitas e muitas décadas atrás, havia um homem em Teresina que sofria de uma doença não diagnosticável. Já havia passado por vários especialistas, inclusive fora do estado, e a doença exacerbava-se lenta, mas ininterruptamente.

Um dia, um dos médicos, querendo livrar-se de vez do paciente, disse-lhe que o único remédio seria um chá feito com a raspa da cruz de Cristo.

Pronto, estava decretada a morte do paciente. Afinal, conta-se que essa cruz fora encontrada por Santa Helena, no ano 326, enterrada em algum lugar de Roma. Estava armada, portanto, a maior “sinuca de bico”. Se o remédio não era possível ser encontrado por aqui, seria impossível na Itália.

Naquela época, sair de Teresina para o Rio de Janeiro era uma aventura pra mais de um mês, e para a Europa, então, seria uma odisseia! Mas eis que surge um fato inesperado: um dos frades capuchinhos, que vivia em Teresina, estava de partida para Roma, com retorno marcado para dentro de nove meses. Imediatamente, os familiares do enfermo foram ao Convento de São Benedito, e diante de tamanha ingenuidade e insistência, o religioso não teve outra alternativa a não ser se comprometer a trazer a raspa da cruz, coisa que nem ele mesmo, por maior boa vontade que tivesse, achava concrescível.

Quase um ano depois, quando o doente já estava nas últimas, anunciaram a volta do sacerdote. Ele viera de navio até Parnaíba-PI e, de lá, por vapor, pelos rios Igaraçu e Parnaíba até Teresina.

Próximo de onde é hoje a cidade de União, o sacerdote lembrou-se de que havia esquecido a tão inusitada encomenda e quase entrou em desespero, não fosse uma ideia das Arábias...! Com um pequeno canivete, raspou um pouco da madeira do casco do vapor e acondicionou-a numa caixinha de papelão.

Ao chegar a Teresina, a festa estava armada e os familiares do quase morto ansiosos, à espera dele. Descendo do vapor, muito gentilmente entregou-lhes a caixinha e tratou de esquecer o fato.

Quando os familiares chegaram em casa, ficaram surpresos, pois o ânimo do doente já era bem outro e após tomar a infusão, a recuperação causou espanto em todos... O milagre realmente acontecera!

Menos de uma semana depois, o ex-morto foi com toda a sua família ao Convento, agradecer a gentileza do frade que, perplexo com o acontecido, soltou uma daquelas pérolas maravilhosas que a gente só ouve a cada cem anos:

– É verdade, quem cura é a fé e não, o pau da barca!

Eu ouvi e conto aqui.