*O Criador, a criação e a criatura.

Não precisa ser teólogo para ver que a gênesis bíblica é um livro fabuloso no sentido lato e que se apresenta repleto de impreenchíveis lacunas, mas que irei oferecer alguns remendos.

Milhões de anos depois que Deus construíra o mundo com tudo o que nele existe, isto aqui estava num abandono de causar dó, entregue literalmente às baratas. Deus trabalhara incansavelmente durante seis dias e agora sua obra estava aí ao “deus dará”! Então o Criador precisava de imediato de um ser pensante para gerir os destinos da terra e resolvera criar o homem.

Os outros elementos e seres Deus os tinha criado aleatoriamente sem empenho algum e isso acarretara uma série de graves incongruências: A centopeia nascera com duas fileiras imensas de pernas e a serpente sem perna alguma. O elefante com uma tromba enorme e a anta com quase nada... O siri sem pescoço, já a girafa...! O curió quase que veio sem bico, mas o tucano! Diante disso, o homem não poderia ser criado ao acaso, passível de erros. Deus o construiria com suas próprias mãos, passo a passo.

A princípio a coisa não foi tão simples assim. O primeiro pepino foi a escolha do material. Cortar uma árvore, nem pensar! Deus não seria o primeiro a iniciar a destruição do planeta e logo pelo desmatamento. Bem que poderia fazer o homem do diamante o da opala, acontece que o Criador já sabia que no futuro o homem se tornaria num ser de cervis dura e de cabeça duríssima, fazê-lo do diamante seria o fim da picada...! Deus já sabia que no futuro o homem se tornaria um ser orgulhoso, fazê-lo da opala, uma das pedras preciosas mais raras do planeta, só o tornaria insuportável. Então resolvera fazê-lo do material mais ordinário da terra, ou seja, da própria terra.

O segundo pepino era que o Criador não possuía ferramentas. ELE só dispunha de um machado e um facão... Depois de preparar um traço de argila, começou a esculpir o homem. O resultado disso foi que saímos (nós homens) armengados, tortos, retos, sem acabamento algum, tomemos, por exemplo, o FRED FLINTSTONE. Fomos realmente feitos a facão...! Para esculhambar de vez a obra, o futuro não seria nada gentil com o homem, e cuidou de deixá-lo careca, banguelo, pernas finas, barrigudo, míope e condenado antes de morrer, a passar pela terrível humilhação de ficar impotente de um membro que lhe era a maior fonte de glórias, crendices, pabulagens e não poucos contratempos.

Homem feito, Deus entregou-lhe o planeta e disse-lhe: Reine sobre tudo... Para quem acabara de chegar, sem conhecer o terreno nem os vizinhos, sem ter um curso superior de Administração, sem entender nada de Agronomia, nem de Matemática, nem de Física, desconhecendo as leis da Natureza e com um vastíssimo patrimônio desgovernado, o homem sentiu-se nu e isolado, então passou a fazer todas as besteiras que lhe davam na telha, isso num lugar que nem telha tinha.

Um dia, Deus se deu conta que não era bom que o homem estivesse só e resolvera lhe fazer uma auxiliar que lhe correspondesse. Por esse tempo O Deus Todo Poderosos além da experiência na fabricação do homem, já dispunha de uma bela oficina, equipada com serras, lixas, tintas, esquadros, pinceis, bisturis, cinzeis, colas cirúrgicas, anestesias e outros importantes recursos, até o material a ser usado seria outro de melhor qualidade, tanto que concluída a escultura e nela posto o sopro da vida, Deus recorrera a aposentadoria, pois nada mais de importância lhe restava a fazer. Até hoje a mulher é tida e com justiça como a obra prima do Criador, uma obra realmente divina.

Ao despertar e ver aquele belíssimo “monumento”, o homem ficou extasiado. A mulher era um ser completamente diferente dele. Suas formas anatômicas eram perfeitas, cheia de curvas, algumas dessas perigosíssimas e de uma exagerada graciosidade. Sua arquitetura deslumbrava e ela possuía um centro de gravidade mutante a tal ponto que, até hoje o homem não entende o porquê da mulher rebolar tanto as cadeiras quando caminha...! A mulher tinha orifícios que o homem não conhecia e isso o deixou sobremaneira excitado. Por exemplo: Buracos nas orelhas para dependurar balangandãs! Para o homem isso foi uma descoberta e tanto...

A mulher era um ser de rara inteligência, detalhista, perspicaz. Com esses atributos não lhe foi difícil concluir que na verdade o homem era uma toupeira. Daí para inventar o dengo, a manha e a catimba foi só um passo. Sabendo de suas qualidades e das limitações do parceiro, tendo uma visão territorial avantajada, aos poucos foi estabelecendo limites. O homem governava o mundo e sem notar era por ela governado. Os poderes masculinos, antes extraordinariamente grandes, tornaram-se irrisoriamente diminutos (isso para ser redundante) e o imbecil ainda achava que estafa abafando!

Por seu lado, Criador cuidou de ficar distante dos dois, vendo o circo pegar fogo. Foi nessa época que nascera a máxima filosófica: Entre marido e mulher, nem Deus mete a colher.

O homem de que se supunha já ter feito todas as burrices, perto da mulher destrambelhou de vez e tudo no desejo de agradá-la. Num piscar de olhos passou de senhor a vassalo, de mandão a mandado, de dono a possuído. Todos os esforços foram poucos e logo foi relegado a um terceiro plano, pois até a cobra tinha mais crédito junto à mulher... logo a cobra! Tudo aquilo que o homem fazia ou faz, a mulher desmancha e aquilo que ela desmanchar, que ele não se meta a besta de reconstruir, que vai desembocar numa confusão dos diabos...!

Epa...! Peço-lhes desculpas, esta obra ficará inacabada. Minha mulher acabou de passar por aqui e já me foi perguntando se eu não tinha nada a fazer. Acho melhor ficar quieto, hoje ela está virada num cancão! Fui