ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: AS FORMIGAS
ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: AS FORMIGAS
Rangel Alves da Costa*
Conto o que me contaram...
Que as formigas são bichos atrevidos ninguém duvida. Mas pelo que soube que andaram fazendo me abstenho de acreditar.
Enfrentar um elefante, isso é demais. E vencer, muito mais ainda. Não posso acreditar numa coisa dessas de jeito nenhum.
Mas o que elas fizeram foi totalmente injusto, um total desrespeito às regras do jogo. Ora, como não podiam derrubar o imenso tronco de árvore dentro do mesmo tempo que o elefante levou para deixar em pedaços, armaram para cima do próprio bicho. E deu certo.
Quando a raposa gritou dizendo que já estava valendo e podiam começar a derrubar outro tronco igualzinho, o que elas fizeram foi dar ferroadas no lombo do elefante e fazê-lo sair em disparada em direção à tora de madeira.
Quando chegaram faltando uns dois metros, outras formigas que estavam na tromba do bicho fizeram cócegas e o bichão espirrou feito mangueira. E no espirro as formigas foram arremessadas, derrubando o tronco da madeira sem ao menos tocá-lo.
E porque ficaram com raiva do fazendeiro que mandou tapar todos os formigueiros que existiam na propriedade, se reuniram em conferência para planejar vingança. Estratégia concebida, mandaram um emissário convidar o líder dos cupins com urgência. Como os cupins tinham o maior medo das formigas, resolveram fazer o que elas exigiram sem pedir nada em troca.
E assim, pelo plano traçado, as formigas ficaram incumbidas de uma parte da revanche e os cupins de outra muito menos trabalhosa, mas também eficaz. Assim, quando a noite começou a descer e o dono da fazenda nem imaginava o que tramavam contra si, resolveram começar a agir. E quando amanheceu o dia não restava mais nenhuma plantação na fazenda, tudo cortado pelo pé, totalmente imprestável, mais parecendo uma terra devastada pela guerra.
Quando o fazendeiro foi avisado do que havia acontecido e saiu correndo com a família para lamentar a destruição, atrás de si o casarão desabou feito um castelo de areia. Junto com os escombros ficaram também os cupins, que não lembraram que o seu fim depois daquela maldade não seria dos melhores.
Vendo aquela devastação toda e tendo ainda que suportar ver sua bela residência de fazenda totalmente destruída, o fazendeiro colocou a mão na cabeça totalmente desesperado. Depois ergueu os olhos e os braços para o alto sem saber o que fazer. Ainda estava nessa posição quando uma chuva bem forte começou a cair. E em cerca de cinco minutos as águas já estavam dançando sobre a terra e levando tudo pela frente.
E foi quando o fazendeiro viu meio mundo de formigas sendo levadas na enxurrada, se debatendo na correnteza, pedindo socorro. E não sabe por que, mas começou a sorrir.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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