ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: PROCISSÃO DE SÃO JOSÉ
ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: PROCISSÃO DE SÃO JOSÉ
Rangel Alves da Costa*
Conto o que me contaram...
Dizem que São José é santo essencialmente dos sertanejos, pois se chover no dia 19 de março, a data em que é comemorado, é sinal de que haverá boa safra, fartura de milho e feijão.
Marido da mãe de Jesus, padrasto do menininho, homem simples, carpinteiro, morador de Nazaré na Galiléia, após ser tornado santo pela igreja católica passou a ser tido também como padroeiro dos operários, pelo seu ofício na carpintaria, e padroeiro das famílias, pela fidelidade a Maria, sua esposa. Mas também é padroeiro das grandes esperanças sertanejas.
No dia em que é festejado, todo o sertão se torna esperançado. Devotos colocam sua imagem em frente de casa, saem pela vizinhança levando a imagem do santo efeitada de fitas, cantarolam hinários com fervor desmedido.
Nas cidades, pequenas povoações e fazendas, pessoas demonstram sua devoção como podem. As missas ficam repletas, as casas se enchem para louvar o santo da esperança sertaneja, com a imagem nas mãos, erguem em direção aos céus pedindo que os primeiros pingos de chuva não deixem de cair naquele dia.
E por todo lugar, pelo cimento ou no barro batido, na estrada poeirenta e de massapê, pessoas seguem em cortejo, em procissão, louvando o bom padroeiro com seus cantos religiosos, especialmente entoados em homenagem ao marido da mãe de Jesus. E cantam com fé, fervor e devoção:
“Bendito sejas São José, que fostes testemunha da Glória de Deus na terra.
Bendito seja o Pai eterno que vos escolheu.
Bendito seja o Filho que vos amou e o Espírito Santo que vos santificou.
Bendita seja Maria que muito vos amou!”
“Vinde alegre, cantemos,
a Deus demos louvor;
a um Pai exaltemos,
sempre com mais fervor.
São José, a vós nosso amor,
sede nosso bom protetor;
aumentai o nosso fervor...”
E ao final das procissões fogos de artifícios cortam os ares, as pessoas se reúnem para olhar o horizonte e ler os sinais de chuva. Ainda não há sinal de que será naquele dia que a bonança terá início, mas todos não se cansam em repetir que São José não lhes faltará naquele momento de precisão.
E é tanta fé reunida que o vento começa a soprar diferente, as nuvens avançam mais cheias, o tempo parece ficar mais escurecido. E na boca da noite, quando outras velas já foram acesas, ouve-se um grito de alegria e fervor: “A chuva chegou!”.
Poeta e cronista
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