ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: A FAZENDA DO MENINO

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: A FAZENDA DO MENINO

Rangel Alves da Costa*

Conto o que me contaram...

Diferentemente do que ocorria com sua família, que era pobre demais e sobrevivia da sorte de qualquer emprego na roça dos outros que seu pai arrumava, o menino era rico demais. Um verdadeiro milionário, ainda que vivesse com os pais e irmãos na taperinha quase caindo de beira de estrada.

E por mais incrível que parecesse, mas sua imensa fortuna estava bem ali ao redor da casinha, na parte dos fundos precisamente, já na divisa da mataria que se espalhava adiante e muito mais. Num canto de quintal estava a riqueza do menino, seu latifúndio, seu casarão, seus rebanhos, sua vida de prazer e felicidade.

Demorou muito tempo para o menino construir tudo aquilo, conquistar o que tinha com tanto trabalho e persistência. Na verdade, coisa de um ou dois meses após ter a ideia de limpar uma pequena área no fundo do quintal e ali estabelecer os limites de sua fazenda. Primeiro o descampado inóspito, mas depois uma riqueza infinita.

Assim, tendo limpado o chão e cercado os limites de sua fazenda com pedaços de garranchos fincados na terra, logo tratou de abrir um buraco para a barragem e em seguida forrou tudo com plástico sem furos, de modo que a água que fosse colocada ali não pudesse ser absorvida. O passo seguinte foi levar uma casinha de brinquedo que guardava dentro de casa e levantar um pouco a terra para que ficasse vistosamente numa parte mais alta.

Tendo a fazenda cercada, a barragem com água e a sede da fazenda, então passou a se preocupar em colocar ali as outras coisas que uma propriedade de ricaço necessariamente deveria ter. E faltava muito, logo se certificou, e coisas que somente conseguiria em outros lugares.

Escondido do pai e da mãe, cortava caminho e saía procurando ponta de vaca pelas fazendas, quintais e arredores da cidade. Fez festa quando chegou ao matadouro e percebeu que jogadas pelo chão ainda restavam parte de seu futuro rebanho. Assim, colocava tudo num saco, deitava-o sobre as costas e voltava para a sua fazenda.

Sentado na beirada do riachinho já perto de sua casa, tendo à mão uma faquinha tomada emprestada da cozinha, então começava a dar beleza, qualidade e valor ao seu rebanho. Limpava e lavava cada ponta, passava a faca para tirar as imperfeições e deixá-la lisinha, depois estendia o rebanho ao sol, até secar bem sequinho, para depois dar o acabamento final.

Estando totalmente secas, passava novamente a faca para alisar ainda mais e em seguida tirava do bolso um pequeno embrulho contendo sebo endurecido de vaca. Melava a mão e depois passava em cada ponta, dando um brilho que chegava refletir na luz do sol. E assim ficava uma vaca mais bonita do que a outra, um touro maravilhoso, uma bezerra sem igual. E fazia isso muitas vezes, por dias seguidos, sem se cansar, no único intuito de fazer prosperar sua fazenda.

Ao entardecer deitada ao lado de sua propriedade e chegava a sonhar com outras coisas. Quem sabe Deus se mais tarde tanta ponta de vaca não se transforma numa realidade para quem tanto sonha e luta.

Poeta e cronista

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