ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: O ET MATUTO E A NAVE ENCOURADA
ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: O ET MATUTO E A NAVE ENCOURADA
Rangel Alves da Costa*
Conto o que me contaram...
Essa ninguém me contou não, pois tive o prazer de ouvir, de testemunhar esse causo saído da boca de um velho sertanejo, lá pelas bandas do meu lugar, pois também sou das brenhas da mataria. E com muito orgulho, sim senhor!
A estória é por demais astuciosa, até difícil de se acreditar na primeira ouvida, mas como por aquelas redondezas acontece de tudo, então conto o que me contaram, ainda que o cantador de causo seja tido e havido como mentiroso de marca maior. Mas vamos ao que interessa.
Num pé de bodega, dessas especializadas em vender cachaça misturada a raiz e casca de pau, local onde se ouve de tudo nos lugarejos interioranos, depois de mandar descer um litro de aroeira para a sertanejada, logo me interessei por uma conversa que o velho tinha iniciado. Falava sobre um disco voador que havia visitado aquele lugar e não fazia muito tempo.
Perguntei como era o tal disco voador e de imediato ele respondeu: Pelos meus olhos que não mentem jamais, juro que era uma coisa pra lá de estranha. Era todo de couro cru, de couro já amarronzado de muito sol e de muitas andanças, e era igualzinho a um chapéu de vaqueiro, só que mais um pouco atarracado...
Perguntei por que achou que parecia um chapéu de vaqueiro sertanejo e o homem nem pensou duas vezes: Era igualzinho um chapéu de vaqueiro sim, desses que se tem muito por aí. Tinha até umas fivelas na parte da frente e uns adornos que caíam nas duas bandas laterais. Senti até o cheiro suarento do chapéu quando a agente tira depois de muito uso. E aquele chapéu voador parecia de muito uso, pois cheirava a encardimento que só...
Em seguida perguntei se tinha avistado algum ET, alienígena, gente de outro planeta ou coisa parecida. E o que ouvi foi impressionante: Tinha sim, seu moço, tinha sim. E tudo parecendo com a gente, só que muito maior que três matutos num só. O bichão usava roupa de couro também, um gibão todo bonito, chapéu encourado do mesmo formato do disco e até carregava um berrante na mão. E não acredite no que aconteceu...
Ele tocou o berrante? Perguntei assustado. E o homem respondeu: Depois, só depois ele tocou o berrante de um jeito que a gente nem toca mais, coisa bonita demais de se ver. Inté chorei na hora, mortinho de saudade que fiquei. Mas antes abriu a boca de dente de ouro e soltou um aboio que até os bichos da terra se tremeram de emoção. Levou um cantil à boca, tomou uma pinga e depois disse coisa do tipo “fasta pra lá boi danado’, “êia, êia, se achegue linda fulô”...
Tem certeza que era um ET num disco voador? Indaguei intrincado demais. E como resposta ouvi: Não só eu como muita gente viu. Esses aí não me deixam mentir. Não foi mesmo?
Olhei para os presentes, mas cada um parecia querer esconder o rosto, fingir que nem estava ali. Então achei melhor acreditar assim mesmo.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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