ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: GESTOS SIMPLES DE AMOR

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: GESTOS SIMPLES DE AMOR

Rangel Alves da Costa*

Conto o que me contaram...

Ouvi de um velho sábio que a prova de amor ou se dá pelo valor ou pela singeleza. Pelo valor se diz quando acha que aquele amor merece, através de uma jóia cara ou coisa que brilhe aos olhos interesseiros de quem recebe. Pela singeleza através de um simples gesto, de uma oferenda miúda, porém de grande significação.

Ao lembrar essas palavras juntei pensamento em torno de outras situações. Creio que hoje não existem mais essas coisas simples e tão importantes, mas que merecem ser citadas como lições para os mais jovens.

Para mostrar o quanto amava minha avó, meu avô comprava a imagem de um santo e colocava em cima da mesa. Não dizia nada, pois não era de muita prosa familiar, mas percebia-se nos seus olhos enorme ansiedade que ela encontrasse o presente e esboçasse um sorriso.

Contaram-me sobre alguém que andava léguas e léguas, muitas vezes virando o dia fora, somente para encontrar alguma fruta ou flor ao gosto de sua amada. Sabia que ela gostava de araçá – e quanto mais amarelinho melhor – e então saía sem rumo, cortando vereda e mataria, até encontrar a deliciosa frutinha. E que prazer sentia no coração ao entregar tal presentinho à sertaneja dos sonhos.

Quem também vivia no meio do mundo colhendo flores para sua amada era um aprendiz de poeta que conheci em tempos idos. Não só procurava flores, como também buscava inspiração para tecer versos e rimas com o nome dela. E voltava de lá com um cesto de vime repleto de flores do campo e no caderninho um verdadeiro ramalhete de palavras bonitas ao coração. Tímido demais, entregava as lembrancinhas de cabeça baixa e depois se danava a chorar.

Outro, vivendo em lamentável estado de pobreza e sem tostão algum para comprar bugiganga para o seu amor mais amado, passava noites inteiras imaginando como conseguir alguma coisa para agradar sua bela. Ainda bem que ela era compreensiva, simples também, pois ele chegava trazendo à mão uma concha do mar, um diadema de cipó encimado por pequenas flores de jardim, uma pedra que encontrasse e achasse bonita, um versinho caprichadamente escrito e cheio de melodia cativante.

Conheço alguém que deu um retratinho três por quatro, em preto e branco, escrito atrás “eu te amo”. E ainda hoje, sempre que ele viaja, ela beija e dorme com a velha fotografia ao seu lado.

Poeta e cronista

e-mail: rangel_adv1@hotmail.com

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