ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: A NOVA REVOLTA DOS CANGACISTAS
ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: A NOVA REVOLTA DOS CANGACISTAS
Rangel Alves da Costa*
Conto o que me contaram...
Como todo mundo ficou sabendo depois – mesmo que através de gente cuja palavra mais séria não valia um vintém furado - o ferrenho desejo dos cangacistas era enfrentar os cangaceiros, estes do bando de Lampião. Ora, viviam enraivecidos porque o Capitão dos sertões não os havia aceitado no seu bando.
Com a recusa, se reuniram para formar uma força cangaceira paralela, com o nome de bando de cangacistas, cujo objetivo maior era provar a Lampião, através da derrota de seu grupo, que eram muito mais valentes e destemidos que os seus comandados.
Verdade é que mesmo adentrando a mata fugindo da polícia, nunca puderam medir forças com os verdadeiros cangaceiros. Contudo, depois do episódio de julho de 38, quando a polícia cercou e dizimou o mais famoso bando já existente no cangaço, matando inclusive Lampião e Maria Bonita, o objetivo dos cangacistas passou a ser totalmente outro.
Ora, sem o bando de Lampião não havia razão de ser para a existência do grupo rival, o dos cangacistas. Ademais, se o ódio e a rivalidade não passavam de ciumeira, então o líder dos cangacistas, para não deixar de aparecer, resolveu que o melhor que teriam a fazer era vingar a morte daqueles onze cangaceiros ali nas beiradas do Velho Chico, na tal da Gruta do Angico.
Nesse caso, vingar a morte significava matar o grupo policial comandado pelo tenente João Bezerra que havia quase acabado de vez com o cangaço. Quase acabado porque ainda continuava em ação um pequeno bando comandado por Corisco e principalmente o grupo bandoleiro dos cangacistas, este sim perigoso demais e legítimo sucessor de Lampião. Ao menos era assim que o líder dos cangacistas pensava.
Antes de entrarem em perseguição à polícia assassina, até que os cangacistas mandaram um emissário com uma missiva endereçada ao Diabo Louro, o tal Corisco. E ao receber, o cangaceiro logo cortou uma das orelhas do emissário e mandou dizer que ou eles paravam com aquela palhaçada ou senão ele mesmo, sozinho, ia até lá para destripar um por um. E acrescentou em tom de severidade que pagaria na bala ou no fio do punhal aquele que brincasse com a memória do Capitão.
A resposta enviada pelo não menos famoso cangaceiro espalhou uma revolta desenfreada entre os cangacistas. Quem já se viu um cabra desaforar desse jeito um bando legitimamente sucessor de lampião? A afronta era séria demais e merecia resposta. E não havia melhor resposta do seguir no encalço de Corisco e arrancar-lhe a sua cabeleira, depois fazê-lo ficar de joelhos pedindo perdão.
Já iam partir para acabar com o tal do Diabo Louro quando um dos cangacistas gritou: Mas não era a polícia que ia gente ia perseguir e matar? Então o líder lembrou que era mesmo e pediu um dia para pensar em quem perseguir e atacar primeiro, se a polícia ou o cangaceiro. E dizem que até hoje, mais de setenta anos depois, ainda não decidiram.
Poeta e cronista
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