ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: NOELICES DO BOM VELHINHO

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: NOELICES DO BOM VELHINHO

Rangel Alves da Costa*

Conto o que me contaram...

Acredito que ele existe, mas igualmente não posso deixar de acreditar em algumas maluquices imputadas ao Papai Noel. Destrambelhado, amalucadinho da silva, se mete em situações de fazer rir e chorar suas renas.

Lá no Polo Norte, onde mora rodeado de neve em qualquer estação, trabalha o ano inteirinho na sua oficina de artesão para produzir brinquedinhos que serão doados às crianças quando chegar o natal.

Dizem que quando chega depois de outubro ele já está visivelmente cansado. Verdade é que não trabalha sozinho, pois quando irrompe a noite e adormece, duendes, elfos e outros seres encantados invadem o imenso galpão para produzir uma enormidade de geringonças que os pequeninos adoram.

O problema reside aí. Quando ele mesmo faz os carrinhos de madeira, os cavalos de pau, as casinhas de boneca, as bonecas de pano e outros brinquedos, já sabe a quem serão destinados. Entretanto, quando encontra os presentes já prontos e acabados, praticamente já embrulhados, aí tudo desanda na sua cabeça.

Por culpa dos seus ajudantes misteriosos, que nunca separam os presentes dos meninos e das meninas, nunca deixam nada informando do que se trata e nem informam como deverão ser usados, é que já se meteu em tanta confusão de perder o encorajamento de continuar sua sina de bom velhinho.

Por essas e outras já deixou de fazer a entrega de seus presentes durante três natais seguidos. E foi por isso mesmo que começou essa história dizendo que ele não existia, que era pura invenção dos pais, que ele não chegava pela chaminé coisa nenhuma e nem recolhia os sapatinhos nas janelas, trocando-os por lembrancinhas.

Achava que a culpa por essa descrença toda, por essa mentira desarvorada em dizer que Papai Noel não existe é dos próprios pais que fazem as crianças dormirem cedo demais e não o esperam chegar.

Seria até muito fácil perceber sua presença, pois quase sempre despenca da chaminé abaixo e sai rolando pelo chão; de vez em quando as renas não freiam o trenó e se espatifa todo nas janelas e vidraças; outras vezes esquece o saco e traz uma mala cheia de coisas que criança não gosta de receber.

Certa vez passou a maior vergonha por não tomar nota na agendinha dos presentes que já tinha destinado à mesma casa. Todo ano chegava com uma boneca e quase a mesma boneca. Então, num desses natais, depois de despencar da chaminé foi de quatro pés até a árvore e lá depositou o presente da menina. Arrependeu-se de quase morrer.

Assim que estava deixando o embrulho lá, sentiu alguém batendo em seu ombro. Olhou assustado e viu uma garotinha sorridente, com um saco de bonecas na mão e apontando a porta da casa. E disse: “Nem precisa sair pela janela. Vá pela porta mesmo e leva suas bonecas. Sabe quantos anos eu já tenho pra estar recebendo boneca? Da próxima vez ou me traz um computador ou vou dizer a todo mundo que Papai Noel não existe”.

Então o bom velhinho achou melhor ter uma conversa séria com os pais dela.

Poeta e cronista

e-mail: rangel_adv1@hotmail.com

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