ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: A FOFOQUEIRA

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: A FOFOQUEIRA

Rangel Alves da Costa*

Conto o que me contaram...

Fofoqueira é a pior erva daninha, é traça ruim que se alastra por todo lugar. Vivendo, bebendo e comendo, do imprestável vício de estar observando a vida dos outros para depois passar adiante, logicamente que aumentando, se sente verdadeiramente doente quando não sabe de nenhum fato novo para fazer a festa da maldade.

Eis que numa dessas cidades tão conhecidas por todos, de casas coladas uma na outra, muros, quintais e pessoas sentadas nas suas portas ao entardecer, vivia uma fofoqueira que era o cabrunco da peste, a gota serena com nome de gente. Unanimemente diziam que de gente a coisa ruim só tinha o nome.

À caça de assunto sobre a vida alheia, a cabrunquenta da zinha logo cedinho se punha na calçada fingindo que estava varrendo. Ao invés de se voltar para a vassoura e o chão, os olhos da dita ficavam zanzando de um lado a outro procurando ver quem passava, que roupa vestia, estirando os ouvidos para ver se ouvia alguma coisa. Quando não via imaginava. E sempre o pior...

Nessa sua lide diária, estava com a janela ou a porta sempre aberta. Mas ora, não podia perder nada do que se passava lá fora. Qualquer murmurejo a mulher corria feito uma enlouquecida para saber do que se tratava. Com isso queimava comida, colocava sal demais no feijão e na carne, deixava o ferro de engomar esturricando a roupa. Muitas vezes saía descalça até as esquinas, toda desgrenhada, só porque imaginou que qualquer fato novo estava acontecendo.

Famosa pelo seu péssimo hábito, ninguém nas redondezas lhe dava mais atenção, fazia tudo para não lhe dirigir a palavra e, principalmente, sempre se armando para não dar motivos para a outra sair por aí contando mentiras, espalhando fofocas. Até os moradores de outros lugares evitavam passar diante da porta dela e até na rua.

Chegou um tempo que ela começou a adoecer. E enfermidade esta ocasionada pela falta do que falar, porque não conseguia mais encontrar deslize nos outros para fofocar, para inventar, para aumentar. Desse modo, se vendo fragilizada e com a língua sempre coçando sem ter o que dizer, resolveu tomar uma atitude drástica.

Resolveu então falar da própria família, dizendo em segredo a quem lhe desse atenção que a filha mais velha já havia pegado barriga e abortado de homem casado, que a mais nova só pensava em namorar com homem que tivesse carro e vivia escrevendo carta de amor para jogador de futebol. Era uma Maria Chuteira, acabou revelando.

Mas as pessoas não suportavam mais essas conversas e não admitiam que a própria mãe estivesse falando mal das filhas, meninas bem conceituadas e recatadas. Então a mulher adoeceu ainda mais gravemente e dessa vez a única solução encontrada foi falar de si mesma, de sua própria pessoa.

E se danou a dizer que de tão honesta que era não podia calar de vez sobre algumas de suas grandes virtudes, principalmente sua demasiada religiosidade, seu amor ao próximo e o máximo respeito que nutria pelo ser humano. Quer dizer, além de fofoqueira uma deslavada mentirosa.

Poeta e cronista

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