ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: O MENINO E SUA AVÓ
ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: O MENINO E SUA AVÓ
Rangel Alves da Costa*
Conto o que me contaram...
Dizem que numa terra nua, lugar hoje entristecido e tão verdejante num tempo distante, um garotinho morava com os seus numa casinha de herança familiar.
A avó, apontando com a mão por todos os lados, dizia apenas que tudo ali havia sido muito diferente do que era agora.
Mas um dia, num entardecer dolentemente sertanejo, o menino sentou no colo da velha senhora e perguntou pela baraúna enorme, com cerca de cinco metros de largura, bem ali nas barrancas do riachinho.
A avó olhou assustada para o neto e não respondeu nada. Afinal, aquele moleque não podia saber que um dia existiu naquele local a bendita árvore. Há mais de quinze anos havia sido derrubada.
Noutra tarde, de chuviscar e tristeza, o menino sentou por cima da avó e perguntou pelo pé de umbuzeiro, sempre carregado, que ficava ali pertinho do curral das pedras. A avó deixou uma lágrima cair pelo canto do olho e não respondeu nada.
Numa noite, apenas um anoitecer sertanejo sem os encantamentos de antes, sentados num banco na malhada, o menino atrevido perguntou se o fogo-corredor não aparecia mais por ali porque não tinha mais mata pra se esconder. E a avó ficava cada vez mais desesperada.
E noutros e noutros dias, o menino apontava em determinadas direções e perguntava cadê a serra que estava ali, cadê a mata da onça que ninguém via mais, cadê a casa do velho do mundo que ficava bem lá dentro do coração da floresta.
E a avó então teve de perguntar por que ele falava tanto nessas coisas do passado e como ele sabia dessas coisas de um tempo muito distante.
E o menino enfim respondeu que era seu avô que lhe contava tudo. E naquele momento ele estava bem ali vestindo um gibão e selando um cavalo pra ir vaqueirar a lua mais bonita da noite.
Pra presentear sua bela senhora...
Poeta e cronista
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