ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: O GIRASSOL
ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: O GIRASSOL
Rangel Alves da Costa*
Conto o que me contaram...
Dizem que o girassol se alimenta, come e bebe do sol, mantém sua vida única e exclusivamente em função do brilho da lua ardente.
Como depende em tudo do sol, fica mirando o tempo inteiro sua claridade, girando suas pétalas na direção da luz. Sabe que sem essa luz por muito tempo seu organismo ficará frágil e murchará, impiedosamente morrendo, tornando o amarelado brilhoso num marrom de entristecimento e adeus.
Num dia ao amanhecer, chegou um passarinho e pousou bem ao seu lado. Em seguida disse que aquele era o último dia daquela estação ensolarada e que já a partir do dia seguinte começariam as chuvas, as trovoadas, os tempos mais enegrecidos e tristes. Até já tinha avistado umas nuvens carregadas se formando lá no outro lado da linha do horizonte.
O girassol, vivendo em constante alegria, nem havia parado pra pensar nessa situação. Pela informação do passarinho, talvez aquele fosse o seu último dia de viver em plena felicidade, pois as chuvas, o tempo fechado, seriam certeza de sua morte.
Adormeceu triste demais e sonhou sendo uma planta de água, uma flor que quanto mais água caísse por cima mais vida teria. Por isso mesmo acordou cansada, um pouco mais tarde do que o costumeiro. Abriu os olhos e nem um raio de sol, nada adiante nem lá por cima. O que viu e ouviu foi de assustar. Nuvens de trovoada tomavam conta de toda visão.
Como não havia mais nada a fazer, abriu os braços como fazia sempre para receber o sol, e deixou-se molhar impiedosamente. Os pingos derrubaram as pétalas e depois o tronco abriu os braços dizendo: “Sol, meu sol, por que me abandonaste?”.
E depois suspirou e morreu.
Poeta e cronista
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