ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: A TRISTEZA DO MALUQUINHO
ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: A TRISTEZA DO MALUQUINHO
Rangel Alves da Costa*
Conto o que me contaram...
Dizem que lá pelas bandas dos Cafundós, morava um maluquinho com sua família – o pai e a mãe - numa tapera de beira de estrada.
Por lá era tudo mataria, veredas de gente e bicho, com a estradinha cheia de pedras e espinhos. Sem juízo de nada, nascido maluco e tendo a maluquice por sina, a única alegria na vida do maluquinho era sentar num lajedo grande na beira da estradinha esperando quem ou o que passasse para ficar atirando pedra.
Mas um dia o progresso chegou por lá, homens e máquinas foram alargando o terreno da estrada, retirando o lajedo, remexendo a terra inteira, dizendo que naquele local ia ser construída uma estrada grande de asfalto.
Assim que os primeiros homens chegaram o maluquinho fez uma festança, pois jogou pedra pra todo lado, dando trabalho aos pais que corriam desesperados para informar que não arreliassem não, pois se tratava de um doidinho de pedra.
O que era festa, contudo, foi se transformando numa tristeza infinita. Ficou quase em tempo de se acabar de sofrimento quando viu a grande máquina retirando o lajedo onde costumava ficar sentando. E depois foi pior ainda.
Um dia chegou em casa chorando, desesperado. A mãe perguntou o que tinha sido daquela vez, e ele, numa lucidez jamais vista, foi logo dizendo em prantos:
“Mas mãe, a única alegria que eu tinha na vida era jogar pedra em quem passava. E o que vou fazer agora, se por cima daquela borracha preta não tem mais nenhuma pedrinha sequer. Será que nem doidinho de pedra pode ter mais pedra pra jogar?”.
Poeta e cronista
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