As cidades da Paraíba em um conto

Me adesculpe, minha genti, meu jeito de falar: sou matuto do sertão num sei se apronunciar, o meu nome é PARAÍBA e minha históra vou contá.

Eu nasci lá no CONDADO lá pur trae do MONTE HOREBE, na tá

CACHOEIRA DOS INDIOS já nas terra da BARRA DE SANTA ROSA do

CONDE o senhor JUAREZ TÁVORA que a nutiça filiz recebe. Minha famía era humilde mai muito bataiadeira. Minha mãe é IGARACY, fia de seu IBIARA lá da tribo JURIPIRANGA pegada com a ITAPORANGA pra cá do canto da ARARA. O meu pai é seu GURJÃO, fio de seu FAGUNDES, um cabocoforriado e o mió vaquêro da BARRA DE SÃO MIGUEL, terra de seu CALDA BRANDÃO.

Nasci numa sexta-fêra nu dia de SANTA LUZIA da era que se passô.

Dona CONCEIÇÃO foi minha partêra e o meu imbigo ela mermo cortô e vizim do POÇO DANTAS ela bem purlá interrô, era pá SÃO JOSÉ DE

ESPINHARAS bom LIVRAMENTO me dá, e pá eu ter BOM SUCESSO em

todo o meu caminhá.

Minha madinha foi DONA INÊS, o padim seu DAMIÃO eles era um casal

muito filiz, que morava lá na VÁRZEA por trai da SERRA DA RAIZ. Na vida fui um aprendiz de oiça pu ripitição, amansava burro brabo, matava cascavé cua mão, uma micova de mato na inxada tirava sem reclamação, mai da cartia do ABC nunca tirei uma lição. Inté istudei com os fios do patrão NAZAREZINHO e JUAREZINHO que era o orgúiu du prufessô. O bom veinho seu ASSUNÇÃO um PAULISTA que pressas bandas debandô.

Eu inté mi esfucei mai nun teve jeito não, assuletrar e escrivaniar num

era minha vocação. Eu gostava das MONTADAS e era um MONTEIRO

danado, um furustento que pegava GADO BRAVO, que na MATURÉIA era um tatu, torava MATO GROSSO nos peito: MASSARANDUBA, MULUNGU.Trazia o bicho piado com JUNCO DO SERIDÓ, butava no CURRAL DE CIMA do lado da capelinha de SÃO MIGUEL DE TAIPÚ.

Na friguisia eu era afamado pru via da dispusição, nuvia braba eu

pegava e SAPÉ cava no chão e qualquer PICUÍ eu arresuvia na região.

Na fazenda BREJO DO CRUZ tinha um tôro espiritado dava carrêra em gente honesta, gente véia e nos safados. Eu tinha visto bezerrinho o tôro por nome BELÉM que era fio de um tôro de papai, o tôro GURINHEM, mai cumigo num tinha nhêm nhêm junto cum meu parceiro o fio de seu JOCA CLAUDINO, amigo desde minino, o SANTANA DOS GARROTES, também chamado “Santarém”. Peguêmo o barbatão na mata, que parecia um PITIMBU, dava coice e chifrada e urrava como um JACARÁU. adispoi desse dia meu sucesso foi apruvado cuma a luz, tinha sido eu o caba que pegô e trôxe bem trazido BELÉM DO BREJO DO CRUZ. Afinal eu só pudia sê benzido, poi tinha sido

batizado por FREI MARTINHO que morava lá nas Europa no castelo de

Queluz.

Mai um dia minha dispusição caiu pelo LASTRO num amanhecê quando

eu me apaixonei por ZABELÊ. Ela era uma caboca lazarina abunitada de tirar o SOSSEGO de qualquer um que ela cunhecê. Era fia única de seu BAYEUX com dona APARECIDA e moravam lá na BARRA DE SANTANA seguino essa decida, adispois do CURRAL VELHO, mermo de frente da SANTA CRUZ da capelinha de SÃO JOSÉ DO BREJO DO CRUZ morava a minha quirida.

Era uma donzela trabaiadeira, arava, prantava, cuía, mai gustava mermu era de PILAR em seus PILÕES. tinha um ciúme amuado dos seus

PILÕESZINHOS, nem se astrevesse a no bicho incustar sem seu

cuncentimentos, poi levava logo uns belicões. Essa muleca fez uma

COXIXOLA no meu curação, era um querê bem tão da mulesta que fez uma ALHANDRA no meu peito da muli INGÁ que dá pra vê a inchação.

Foi num dia anubraiado que tive uma BOA VENTURA numas andança

entre as CAJAZEIRAS, foi pur lá que avistie aquele anjo madornando debaixode um UMBUZEIRO adispoi da brincadêra. A gabaneta chegava a sê a fulô mai bunita e cheirosa das fulores daquela CAMPINA GRANDE. Meus óio se acatitaram pareciam duas PEDRAS DE FOGO im riba duma chapa de frande.

Só pode ser uma avisajamento uma belezação dessa. Foi cuma um tiro de budoque que me acertô o curação às pressa. E nu silênço de minha

matutagem uma oração prupusera, meu SÃO SEBASTIÃO DO UMBUZEIRO,minha SANTA HELENA de SÃO JOÃO DO TIGRE, me ajude a cunquistar a fera.

Essa foi a muié mai NOVA OLINDA que já avistei. Daquele dia pradante

ela passou AGUIAR meu pisá por essas DUAS ESTRADAS que desbravei, a do amô e a do trabaiá do jeitinho que matutei. Tudo mudô adispois dessa PASSAGEM na BORBOREMA da minha vida, quando meus óio essa ITABAIANA visuô istendida. Tirei o meu chapé um bom dia adesejei. Magine que pur todas santa do céu: SANTA RITA, SANTA CECÍLIA e SANTA INÊS, JURU pur SÃO FRANCISCO cuma ela disse olá que quase dismaei. Eu muito acontentei e grato fiquei, o burrim esporei, sai cortando o vento: AROEIRAS,BANANEIRAS, CABACEIRAS, CARRAPATEIRA levei nos peito e nem notei.

Saí aLUCENAdo e fui guiado pelo amô e numa NOVA FLORESTA o bicho

estancô, despetei, quando oiêi num vi mai as CAJAZEIRINHAS, nem ondemeu SERTÃOZINHO ficô.

Medo eu num tive tava gustano da lesêra, ainda tinha a VISTA

SERRANA pur trae de uma palmêra, apeiei de MOJEIRO e amarrei numa

NOVA PALMEIRA, ficô comendo aquele CAPIM isverdiado que achava

debaixo da CATINGUEIRA. Sonhando me adeitei na AREIA DE BARAÚNA à sombra de uma CARAÚBAS, sonhei e sonhei com os óio ainda aboticados embriagado de paxão alembrando daquela UIRAÚNA.

Na MATARACA da sina asto dia nóis se encontrô, num festejo de SÃO

JOSÉ DO SABUGI no CAMPO DE SANTANA, nossas vida se achô. Foi lá

debaixo do SOBRADO do LOGRADOURO de seu PEDRO RÉGIO, que uma

ARARUNA nóis dançô, seu óio espiava eu, os meus espiava ela, só num

dancemo um CONGO pruque a GUARABIRA cansô.

Na madurecença da noite ela oiou-me dentro dos óio BONITO DE

SANTA FÉ e como uma minina cheia de ESPERANÇA preguntô

ITAPOROROCA mente se a ela queria pu muié. A espiei como um CAIÇARA e falei sem medo de errar, se a quero? Eu quero mai que isso, o que sinto pur vós me cê “tacima” de qualquer maginar. PUXINANÃ que coisa mai boa, meus óio se encheu d`água igual o RIACHO DE SANTO ANTÔNIO quando a invernia intôa, inda mai quando ela cuchichou em minhas oiças que SÃO JOSÉ DE PRINCESA era seu prutetor, pruvéra!!! só pudia ser ele mermo, sapequei no mermo istante, e o meu é SÃO JOSÉ DO BONFIM, o meu santo guardador.

Foi um namoro da mulinga com uns apertado danado, uns cheiro, uns

cafuné, um andado impariado, um PARARI, um parará, e dois juramento por minuto de pru ano ser casado, parecia o sol e lua quando tão se eclipado. E o disfeixe do casório só depende de SÃO JOSÉ DOS RAMOS essa união ter abençuado.

Seu VIERÓPOLIS e dona MARIZÓPOLIS num tirava o óio do nosso

chamêgo, foi quando peguei cum OLIVEDOS uma CUITÉ DE MAMANGUAPE e enchi o meu ALCANTIL pur detrái de um burrego. Enquanto goleava a bebida alisava o vestido da minha SOLÂNEA de ALGODÃO DE JANDAIRA e seu longo CABEDELO sedoso de óleo de coco CATOLÉ DO ROCHA cherano a copaiba.

Prumode minha pubreza maus oiado despertou, um caboco aprobraiado

namorano aquela fulô, quando BERNADINO BATISTA viu gritô: SÃO JOSE DE PIRANHAS, num acredito no que vejo, esse CAAPORÃ bufento e fedorento ta cum essa sinhora. O cariri num pode aceita essa infiliz união, a partir de hoje vô fazê a MARCAÇÃO e CUBATI de perto pra vê sua ação. SÃO JOÃO DO CARIRI há de cumigo concordá, SÃO DOMINGO DO CARIRI é de desaprovar e de ajudar no DESTERRO dessa terríve paxão.

Num pude acriditar em tudo que uvia, seu SOUZA baixô a cabeça

percebi que se incuía. Minha PRATA oiô pra mim com as buchecha corada da vergonha que sintia, saiu devagarzim e nem percebeu que eu me adispidia. Aquele CASSERENGUE danado tinha tirado minha amada. Foi embora meu AMPARO e todo mundo viu, nessa PIRPIRITUBA do destino nem disse adeus e partiu.

Seu CATURITÉ me chamô baixim e disse com precupação, “meu fio, vá

simbora num espere coisa rim não. Esqueça essa caboca e dê um fora daqui, vá lá pra TEIXEIRA na fazenda CUITEGI, conte a ele o acuntecido, diga que fosse mandado pur mim”.

Voltei pra meu casebre, minha singela TAPEROÁ, a lamparina acendi, armei a rede e fiquei a balançá. SUMÉ lembrando dela e

minha SOLEDADE a aumentá.

Meu DIAMANTE foi forçada de disgosto a me abadoná, foi morá com os TAVARES, MANAÍRA vei me contá, contou tintim por tintim chega meu curação churamigou. Ternotonte ela si riu cum os prosiado que balbuciei lá no POÇO DE JOSÉ DE MOURA na hora que a cunvidei, os óim de QUIXABA arriba daquela boquinha que beijá sonhei. Cuma posso isquecer daquela santa IMACULADA que deixô a morada do céu, de aparença acabocada que era cagada e cuspida a nossa libertadora PRINCESA ISABEL.

Matutei uma sumana cuma devia pruceder, o peito chiava de querê bem eu tava sem querê vivê. Adispois de muito pensá risuvi ir bataiá a minha fulô de vorta, bebê umas lapada pra essa dô passá. Um banhe resolvi tumá, dei uns tibugo no RIACHO DOS CAVALOS e enveredei pra budega de seu TENÓRIO pra mode se alegrá. Tumei logo um MAMANGUAPE de cana sozinho a se reclamá, nos pé da estátua de SÃO MAMEDE cumecei a me cunfessá, foi quando o budegueiro me alertô que meu rivá quiria me acabá, dizeno: "ITATUBA tá cavada e sete palmo ela mede pra te interrá". Fiquei tremilicando morrendo de PIANCÓ, as perna ficô pesada a garganta deu um nó.

Voltei de imediato trupicano no mêi do camim, aqui aculá uma parada, e no quengo as lembrança dos dizido do butequim. Uma rezada pra SÃO JOSÉ DE CAIANA pra me prutegê de caba rim. Entrei nas MATINHAS fechada pur dênto do ARAÇAGI e caminhei disisperado sem nem pensá no fim. Dispois de umas vinte légua, deitado eu adormeci debaixo de um SERIDÓ, o sol bateno na cara pur causa da pôca sombra que tinha os cipó.

Cum canto de uma curuja acordei no ôtro dia, a boca tava seca e as

tripa chega rugia. Precurei um pôco d’água naquela sertania, tava tonto de sede, a boca chega ardia. Dispois de uma boa precura uma LAGOA SECA achei, as pressa cum as mão umas CACIMBAS cavei, um OLHO D’ÁGUA aflorô,foi aflorano, aflorano inté que uns POCINHOS se formô e mermo baldiada eu tumei.

A água foi aumentando ALAGOA GRANDE ficô. Quando espiei cum os

óio acatitado, as água no juêio de repente chegô. Abri sem demora o

BOGUEIRÂO, SÃO JOSÉ DA LAGOA TAPADA, me salve desse trumento,

me tire da LAGOA que já tá um RIACHÃO. Essa bexiga tabóca que se

transformô do RIACHÃO DO POÇO que da CACIMBA DE DENTRO uma

ÁGUA BRANCA afloro, e na CACIMBA DE AREIA uma ALAGOA NOVA ficô.

Valei-me meu SÃO SEBASTIÃO DE LAGOA DE ROÇA, minha SANTA

TEREZINHA, meu prutetô SÃO DOMINGO DE POMBAL, me tire ligêro

dessALAGOINHA. Num posso acriditá que pru mode uma CUITÉ d’água

afogado vô batê da passarinha. Prumeto, SÃO BENTINHO, que se dessa eu saí, vô acendê trezentas velas para “São Bento de Pombal”, e nunca mai eu vô robá SALGADINHO e nem SALGADO DE SÃO FÉLIX e cumê no capinzal.

Puramô de Deus, meu SANTO ANDRÉ, num me dêxe esmurecê nesse

CAMALAÚ, e sê aterrado nesse lamaçal.

Graças a meu BOM JESUS e a SÃO JOÃO DO RIO DO PEIXE, num pé

de BARAÚNA me agarrei. As água tava danada e a árvure arrancô, saindo desembestada inté que no BREJO DOS SANTOS chegô. Tive logo uma BOA VISTA, uma PEDRA LAVRADA avistei, meus pé sentiu AREIA muito contente pisei.

Oiano direitim me orientá tentei, virei três bunda canascas e no AREIAL

me espichei, o sol bateu na fuça e numa PEDRA BRANCA me sentei, oiêi pru poente uma SERRA GRANDE parecia, era uma SERRA REDONDA que de longe a SERRA BRANCA se via. A vista tava imbaçada num sei se só uma serra era, ou se era uma SERRARIA.

Graças a SÃO JOSE DOS CORDEIROS, dessa tombém iscapei, na

vorta pra minha morada na tribo COREMAS passei, desconfiado, cabreiro, mai cum eles almocei, comi quase metade das EMAS, e meus pobrêma nem contei.

Chegano nu meu rancho, meu JERICÓ selei, minha faca dos dois lado

amolei, o meu veioo bacamarte cum chumbo grosso carreguei, a garruncha butei na cinta dispois que desinferrugei.

Na LAGOA DE DENTRO tirei sete PATOS que tinha, e cum a pruteção de SÃO BENTO vendi a SANTANA DE MANGUEIRA por uma pipita de OURO VELHO e uma cuia de farinha.

Minha maloca que meus fiinho desejei nascê e junto da minha fulô nóis

vê eles crescê. Num foi, vou colocar fogo pra inté as lembrança que me MALTA ta desaparecê. Abri a gaiola do meu POMBAL pra livres elas avuar, e nos cinzeiro dessas QUEIMADAS eu mim a resgatá.

Esporei meu jumento sem oiá nem pá trai, atravessemo o RIO TINTO

inté ai tudo im paiz. Na atravessada da BAIA DA TRAIÇÃO encontrei o

cumpade JOÃO PESSOA de muita valia: “ cumpade, me faça uma fineza! diga aquele fio da besta ruzia que vô cortá do sertã ao litorá, mai um dia nóis vai se encuntrá. E o rôbo da minha caboca lazarina ele vai me pagá, e nem que a MÃE D’ ÁGUA me peça, aquele caba da peste vô pegá. O meu TRIUNFO de certeza ele pode esperá, se ele se escondê eu pelo rasto vô achá, e na CRUZ DO ESPÍRITO SANTO aquele peste vô pregá, se ele morrê antes, NATUBA

dele vô mijá e REMÍGIO dez mil vez pra ele aprendê a respeitá.

Se ele se acha puderoso tombém tenho minha valia, NEGO ser

obediente mermo minha vida tano preta e vermêia numa enorme MARI zia, é que sô rio de água rasas, sô ruim e de impraticável travessia. Dizido isso, sentei a espora no jegue que a puêra acompanhô, na passada do RIACHÃO DO BACAMARTE apertei o dedo no gatilho que o pipôco estorô, é o anúnço da liberdade e da partida dum sê trabaiador, humilde, corajoso e peseveradô inchamiado de AMÔ.

(Em homenagem e respeito a todos os municípios que compõem esse

magnífico estado que é a PARAÍBA).

Conto poético de LINOSAPO ( Andrelino da silva)

15/09/2011

Cachoeira do Sapo/RN

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Lino Sapo
Enviado por Lino Sapo em 16/09/2011
Código do texto: T3222371
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