O DUELO INTANGÍVEL
Disse o jovem justo:
- Desafio-te!
- Como?
- Isso mesmo. Desafio-te a um duelo.
- Que duelo?
- Duelo de vida ou morte.
- Sabe que há diferença entre a nossa...
- Sei muito bem!
- E sabe que isso te põe em desvantagem?
- Muito pelo contrário.
- Tem certeza disso. Sou mais velho que você.
- Não me importa a idade. O tempo envelhece o corpo.
- Mas alimenta a alma.
- Deixe de dramatizações. Escolha as suas armas.
- O que te move à esse duelo?
- Seus pecados.
- E quem é você para...
- Sou o Juiz! Sou eu quem te condenará, pois contra mim você não tem chances.
- Sei muito bem disso. Mas você está sendo tolo, meu jovem.
- Não, meu velho. Você que o está sendo.
- Já pecou, garoto?
- Nunca! Você sabe disso.
- Talvez eu saiba. Mas talvez eu também saiba que um dia você pecará.
- Nunca pecarei! Condeno os fracos e protejo os fortes.
- Irônico. Mas você sabe que não pode me enfrentar.
- Porque não poderia. Conheço seus erros e desvios de virtude. Chegou sua hora de ser julgado. Você é um homem marcado pelas ações.
- Todos somos. Mas você, especialmente, jamais poderá tocar em mim.
- E porque não?
- A nossa diferença de idade.
- E como isso vai fazer você safar-se desta, velho homem.
- Pois eu não sou qualquer homem velho, jovem garoto.
- Não? E que tipo de homem é você?
- Não vê? Eu sou você. Ou melhor, o homem que, logo, vai se tornar...
Percebeu-se sozinho no quarto, gritando contra o espelho quebrado. Chorou aos soluços, imerso em sua ira. E esse foi apenas o seu primeiro pecado.