Agenor, O Gandula

Agenor era filho único do goleiro do Olaria da Lomba Grande do Terceiro Distrito, se criou atrás da goleira buscando as bolas que se perdiam pela linha de fundo não convertidas em gol...

Nos dias chuvosos, a sanga que cruzava a curta distância os fundos da sede se avolumava em furiosa corredeira...Agenor conhecia como ninguém todos os meandros do riacho, todos os atalhos, e quase sempre lograva se antecipar, vencendo com astúcia e rapidez a truculência da correnteza, resgatando a bola antes dela sumir de vez na queda da Cachoeira Grande...

Agenor além de ágil, era um menino feliz e não sabia...

Agenor cresceu, e a vila também com os potreiros ao redor do campo do Olaria sendo tomados pela Vila Operária...

Agenor seguiu buscando as bolas na linha de fundo perdidas, não mais se confrontando com a intrepidez da sanga que fora canalizada. Os tempos modernos forçaram a transmutação de sua agilidade em diplomacia...Barganhando o resgate da bola com cães nada amistosos e cidadãos, menos amistosos ainda, indignados com os constantes

estragos provocados pelo ataque aéreo de todo santo domingo...

O tempo que nunca para, passou...A vila se emancipou...O candidato convenceu que o Terceiro Distrito sediaria jogos da Copa do Mundo de 2014 e um enorme estádio foi erguido...

Agenor hoje está aposentado, barrigudo, trocou o banquinho detrás da goleira pelo sofá de sua sala de estar. Todo domingo a tarde fica de plantão, esperando um improvável chamado...Quem sabe algum dia ainda apareça um zagueiro à moda antiga que consiga dar um chutão que transponha as muralhas do estádio do Olaria...Quem sabe?

Steve Johnson de Almeida
Enviado por Steve Johnson de Almeida em 30/09/2010
Reeditado em 08/10/2013
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