jogo do espelho
Somos importadores e exportadores de hábitos e gostos, eu te influencio, você me influencia. E parece estranho que nós dois, metamorfoses ambulantes, subitamente viremos uma mistura homogênea. E parece mais estranho ainda que , ao te abraçar, sinto minhas costas como se fossem as suas e suas mãos como se fossem as minhas. Te vejo (e sou vista), te sinto (e sou sentida): te absorvo e sou absorvida. Eu te imito e tu me imitas.
Ao te emprestar meus livros, minhas roupas, meus filmes e opiniões, digo: “toma que é meu, e faz do que é meu também teu” Digo-te, em gestos e em silêncios, que me tome emprestada, e que não me devolva a mim mesma.
Uma vez tu me dissestes, ao apertar minhas mãos contra as suas: “somos dois iguais, e se nos misturarmos, seria quase impossível saber quem é quem e, indefinidamente, poderíamos seguir como sendo só um”.
Assim, somos apenas bons brincantes do jogo de espelhos, sendo que ao acabar da brincadeira, continuamos imitando um o gesto do outro.