Enjoy the Silence
Tudo começa ao som de uma musica eletrônica.
Seus cabelos louros escorrem pelos meus braços, a parede é fria ao toque, mas isso já não importa, o som das batidas já nos contagiaram, sinto suas mãos passando pelas minhas costas, seu beijo é suave, quente, molhado demais, mas isso só aumenta a vontade de fazer tudo o que não se pode em publico. O cheiro de bebida é latente, forte, alcança a todos em sua embriaguez, e isso só aumenta o doce som das batidas no peito que eu sinto encostado ao meu.
O som gótico e pesado das batidas são profundos, a letra nos diz do silencio, mas ele mesmo já não é mais ouvido.
Estou ocupado demais dando um amasso em uma desconhecida.
Decote fundo, perfumada, corpete preto e vermelho, saia curta, rodada, assim como ela talvez seja, ou será que não? Isso também já não importa mais.
Tequila, vodka, menta, pinga, tudo misturado no seu hálito que começa desagradável, mas aos poucos e aos beijos perde seu cheiro alcoólico e por fim se faz doce em minha boca.
Há muito tempo me lembro disso, minha mão em sua coxa, uma perna levantada, o povo quer ver tudo que não pode, mas quem se importa? Eles estão piores.
A luz negra faz brilhar sua corrente no pescoço, é clara e por isso brilha mais que seu sorriso quando se afasta de minha boca, mas eu já ignorei isso enquanto puxo seus cabelos de leve, olho seus olhos, a cor já não consigo mais definir, mas acho que eram azuis, estereotipo clássico de alemã, mas eu já não quero mais saber disso, e mais uma vez me afundo em seus beijos.
O som nos enlouquece. O som aumenta, a luz pisca de maneira mais rápida, fazendo nossos movimentos parecerem que estão em câmera lenta, mas afinal, onde estou?
Acho que já estou bêbado, de álcool, beijos e caricias mais fortes, mas isso é apenas o começo dos meus desejos, o começo da noite, o começo do meu fim.
Tento ver através de seus olhos nos poucos segundos que nos afastamos, vejo apenas buracos pra um desejo que parece possível hoje: uma cama.
“Sou só eu ou esse lugar inteiro cheira a cigarros?” ela pergunta baixinho no meu cangote, pergunto se ela quer um, e paramos cinco minutos para fumar, ela com seu marlboro e eu com meu hollywood. O povo passa, roupas diferentes, casacos, sobretudos, saias, correntes, luvas, cabelos compridos de cores quaisquer, cheios de brincos e anéis, parecem verdadeiras arvores de natal na pouca luz que começa a ter.
Um DJ sai, outro entra, todos param para beber mais um pouco, vão se preparar para dançar mais. Ela quer beber, e eu não nego, já que é tudo de graça mesmo, open bar nessas horas parece uma maravilha. As pessoas se embebedam, ficam fedendo a cigarro e a álcool de qualquer sabor amargo, mas afinal, novamente, quem liga?
Só querem se divertir apenas essa noite, só mais uma noite.
Eu volto para meu canto com a loura que eu não sei o nome, com um copo cada um, passam alguns minutos de conversa fiada, falando qualquer coisa sobre as pessoas, musica, teatro, sexo, e a musica volta a tocar, agora o som é um pouco mais pesado, o DJ capricha nas batidas, mais altas, mais potentes, mais hipnóticas ainda. Esse sim é um profissional.
Terminado o álcool, voltamos para a estaca zero: o amasso.
Começa tudo outra vez, a língua em minha boca, a mão na cintura, nas costas, cabelos nos ombros. Até parece que vou engolir a pobre menina de saia rodada.
Mas de súbito quem vai pra parede sou eu, ela joga bem, sabe como se brinca de amar. Morde a orelha com leveza e audácia, faz carinho na nuca enquanto beija, passa a mão pelas costas pela cintura, pela coxa, e tudo se fantasia mais uma vez.
Um casal qualquer para ao nosso lado, brinca mais ferozmente, parecem crianças bêbadas brincando com seus corpos, pode-se sentir a sexualidade evaporando deles, e acende cada vez mais nossa vontade inicial, a cama.
Não se tem nenhuma por perto, e a escuridão e as luzes de néon passam cada vez menos pelos nossos lados, passam cada vez mais no meio do publico. O que nos da chance de fazer tudo, menos o que queremos, a não ser que sejamos acrobatas, e tenhamos no mínimo coragem. Coisa que só fazemos mais bêbados do que já estamos. Logo, não saímos da estaca zero, como se isso fosse ruim, haha.
Olhamos por um segundo o casal do nosso lado, ele já esta sem camisa, e cheio de marcas de unhas, ela parece um gato selvagem arranhando-o, mas ele não reclama, gosta, pede mais no ouvido dela, enquanto ele alisa suas coxas debaixo da sua saia comprida.
A perna da loura que ainda não sei o nome se levanta em volta da minha, minha mão vai para sua nádega, e ela geme suavemente. E assim não saímos disso por algum tempo.
Outro cigarro, outra bebida, e assim continuamos mais algumas horas. Mas seu beijo não muda, continua sedento de vontade, de ardis, de sexo, de amor, de paixão fogosa. Mas eu me pergunto: que paixão?
Não imaginava que isso tudo poderia continuar assim, não por muito tempo, afinal essa noite parece que esta para acabar...
Para minha surpresa ainda é mais cedo do que eu imaginava, ainda temos tempo para o desejo dela, a cama. O casal fogoso do lado nos olha, vê a nossa calma comparada a deles, param um instante, e saem andando. A loura curiosa me puxa e os segue, sobem escadas, entram por uma porta e vão parar num quarto completamente escuro, onde em apenas um canto tem uma luz fraca, vermelha com um sofá que parece ser de couro, já todo velho.
Ahh o amor... O sexo... A fantasia pecaminosa... O ardis de uma mente só ligada a uma coisa. Ela acende um cigarro, a luz do isqueiro ilumina um pouco a nossa volta, muitos outros casais, todos eles tão quentes que fazem o lugar ficar abafado, acendo um também, e ela olha em volta e solta um suspiro delicioso, que me faz ter mais desejo. Cinco minutos passados e voltamos mais uma vez para a labuta, amasso, beijo, coxa, mão, cintura, bunda, seios, e quando eu vejo, já estou com a camisa aberta e ela passando as unhas de maneira leve, causando alguns arrepios em meio a minha embriaguez, será que esta tão claro que eu gosto, ou será que eu estou bêbado demais pra esconder isso?
O som ao fundo, abafado pelas paredes fazem das batidas do DJ profissional o ambiente parecer mais um cárcere do sexo que ninguém faz, e isso torna o ambiente mais quente, já que a vontade se torna cada vez mais forte.
O beijo cada vez mais parece gostoso, minha cruz vai parar no fim do decote, o busco com a boca, e ela me tira a cruz e me beija mais uma vez, sinto seu perfume ir embora aos poucos, restando o que é apenas uma leve lembrança de um cheiro doce.
Ao fundo, debaixo da luz vermelha, vejo o casal que vimos antes se deitando no sofá, coisa que eu não faria, sabe-se lá o que passou ali, mas eles não ligam, e no final, quem se importa?
Só sei que o que eles fazem acende o quarto todo, e ao fundo escuto uma voz de mulher rindo – “Isso sim é dark room!” – e nisso todos riem de maneira abafada fazendo o casal se empolgar cada vez mais.
A loura parece querer atenção, pergunto seu nome, e digo que tenho uma idéia. Seu nome é Ângela, e ela nem quer saber o que é, já disse que topa. Então a arrasto para o braço do sofá, ela senta e cruza as pernas em torno das minhas, ela já sabe o que fazer.
Ela tira minha camisa, passa as unhas pelas minhas costas, e me arranha um pouco mais forte, só para deixá-la marcada, puxo seu cabelo e ela geme, doce som no pé do meu ouvido, me abaixo um pouco e mordo de leve seu pescoço, parece uma gata ronronando, então abre o meu cinto, e tudo escurece.
Então o silencio vem, e eu me vejo no meio da rua andando de braços cruzados com ela, saindo da casa, da festa, da zona, para longe das batidas eletrônicas do DJ que toca musica gótica. Andamos um pouco sem rumo, a noite esta agradável, fumamos mais uns cigarros e tomamos o que restava de nossas bebidas que pegamos antes de sair. Mas quando saímos?
Será que eu já estou mais que bêbado, ou será que o êxtase foi tão grande que eu me esqueci do que aconteceu?
Andamos enfim para qualquer motel, subimos as escadas, pagamos o quarto, entramos, damos mais um amasso.
Paro para ir ao banheiro pensando na primeira musica que eu escutei, sobre o silencio, para aproveitar o silencio, Enjoy the Silence, e quando volto, ela esta me olhando, linda com as pernas cruzadas com sua saia rodada onde vejo o fim de sua coxa branca, vejo agora também que seus olhos não eram azuis, mas sim verdes, e o silencio nos cobre de maneira vil.
Eu me sento, ela me olha, e eu finalmente compreendo a musica, ela me beija suavemente, e começamos o nosso querido desejo dessa noite.
Tudo o que eu entendo no final, é que o barulho era a única coisa que nos segurava, não o lugar, nem a falta de cama, é então que ela me olha e canta um pedaço da musica: “All I ever wanted. All I ever needed. Is here in my arms. Words are very unnecessary...”.
E enfim o silencio rompe nossas palavras e gemidos, e a ultima frase que eu penso dentro do nosso silencio é Enjoy the silence...