CARROSSEL
Vez ou outra, repetimos sons, cores, mas, surpreendentemente, não sabemos (ou sabemos demais) o porquê de haver novidade na insistência involuntária.
Nomes, gestos, objetos.... Temos certezas, duvidamos, provamos, confirmamos demais. Tanto que deixamos de entender o que é fácil. Assim continuamos a repetir, estacando até nos banharmos de nossas crenças mais abstratas, de nossa vida voando trancada.
Um amigo que partiu um dia me disse... Eu esqueci! Mas sei que ele disse e isso é o que me atualiza. Mas atualiza o quê? O importante agora é não saber que não sei para evitar a solidão. Devo repetir: “Eu amo, tu amas, ele ama...” Seremos forasteiros de nós mesmos?
Vamos repetir as coisas até decorarmos. A vida só deve valer à pena se estivermos prontos para não sabermos o quê. Se soubéssemos não teria graça a surpresa. De nada valeria repetir.
Por exemplo: vou escrever agora que algumas pessoas estão me lendo. Vão acusar-me de piegas ou de vaidoso; Talvez nem me acusar de alguma coisa vão. Quem me ler eventualmente estará repetindo seu ser diário. Estará acusando-se incessantemente, porque o esquema da leitura é apenas para dar a sensação de mais uma jornada. Menos que isso: eu sou alguém que escreve, como a que dizer: “Estou em transe, a vida é. Apenas é”. Apenas é. Apenas é. Apenas é...
Apenas é a vida. Devo dizer que estou cansado de esperar um texto meu numa publicação. A espera me cansa tanto que nem valerá à pena vê-lo em alguma edição. Mas quero estar em mim e esta ocupação há de ser a correria do dia. Estou cansado de ser estratégico. Onde encontrarei gente para repetir?
A cidade é repetitiva; as pessoas nem se notam. Algumas apenas se relacionam profundamente. Devo ir e voltar a casa. Meu prédio estará sempre no mesmo lugar me visitando tantas vezes que eu existi-lo. Ei-lo em Teresina. Já me acostumei, logo não erro mais o endereço. Repetição, arte de reconhecer-se.
Caro leitor, se hás não te provoco mais que tua própria sabedoria. Nossa existência se repete tanto que deixamos de sê-la um momento. Queremos amar para aprendermos o escuro, mas o escuro é o que não há. É a ausência repetida de si. O amor vai amar-me; do contrário a ele encontrarei meu termo sem segurança de mais um eu cá para nunca haver, mais uma novidade que se desgarra de si.
A vida é diversa num limite de um não. É bom repeti-la: Eu agora estou sendo.