REGISTRO DE OCORRÊNCIA
15ª DP – 05/07/85
Encontrado, nesta madrugada, sob a ponte Hercílio Luz, o corpo de uma jovem branca, de mais ou menos dezesseis anos, o qual, transladado para o IML, aguarda identificação.
JORNAL DO ALMOÇO
Foi encontrado, pela polícia local, nesta madrugada, sob a ponte Hercílio Luz, o corpo de uma garota, presumivelmente de dezesseis anos e de cor branca. Procedida a necropsia, constatou-se estar grávida de dois meses. A polícia acredita que a mesma tenha sido atirada da ponte. As diligências continuam, a fim de apurar sua identidade.
DEPOIMENTO DO PM A JUCELINO (Guarda de serviço na cabeceira da ponte)
Interrogado, disse:
Que, na tarde do dia quatro, a moça chegou ao posto dizendo que se chamava Paula; que era do interior e que viera a Florianópolis para conhecer a ponte; que perguntara ao depoente se poderia atravessar e o mesmo respondeu que não, porque a ponte estava interditada; que ela insistiu, argumentando que seu maior sonho sempre fora ver a ponte de perto, tocar nela; andara a pé e de carona e que não poderia deixar que essa oportunidade escapasse; que era uma moça triste e que seus olhos estavam avermelhados, como se já houvessem chorado muito; que falava como se estivesse longe, flutuando; que o depoente achou que a garota estava sofrendo e permitiu que realizasse o sonho.
Nada mais disse, nem lhe foi perguntado.
O depoimento do pai nada trouxe de esclarecedor. A mãe, porém, informou que Maria Lúcia tinha quinze anos e que estudava na oitava série; que, vez por outra, gazeava as aulas para se encontrar com o filho do prefeito; que o pai descobriu e aplicou-lhe uma surra; que Maria Lúcia continuou com as gazetas e a se encontrar com o namorado; que a menina, um dia, chegou em casa chorando; estava desesperada, porque Paulo, o namorado, a abandonara; que, questionada, respondera que sua menstruação estava atrasada há dois meses, por isso Paulo não a queria mais.
A mãe informou, ainda, que o pai, ao saber de tudo, voltou a espancar a filha, gritando que sua casa não era “zona” e a expulsou.
Dona Lídia teve notícia de Maria Lúcia pela TV e foi vê-la no IML.
Teria que reconhecer o corpo.