SEIS DEDOS NUMA MÃO

O sujeito olhou com desespero à porta que se fechava e jogou-se contra a mesma, no momento exato em que o motorista dava a partida. Não fosse a intervenção dos passageiros que o puxaram para dentro, ficaria entalado. Imediatamente chamou a atenção por sua palidez. Respirava com dificuldade por causa da corrida e só um minuto depois foi que conseguiu dizer obrigado. Olhava às pessoas que o circundavam, com olhos tão estranhamente arregalados, como se temesse um perigo iminente. De repente baixou a cabeça e fixou a mão direita, que trazia fechada de encontro ao peito. As pessoas acompanharam o gesto com um movimento automático e perceberam que pequenas gotas de sangue lhe escapavam por entre os dedos.

Ao constatar que perdia sangue, seu desespero aumentou visivelmente. Começou a olhar atônito a sua volta e por instantes deu a impressão de que já ia saltar pela janela.

Passado o momento de estupefação, uma senhora se aproximou, tentando prestar algum tipo de ajuda e disse as primeiras palavras que lhe vieram à cabeça:

- Meu Deus, o senhor está ferido! - E tentou tocar-lhe à mão que sangrava.

- Não!-Gritou possesso, com a mão esquerda espalmada para frente, empurrando-a -não preciso de ajuda! Estou bem! Não se aproxime! Não se aproximem!

As palavras saiam atropeladas e nervosas, entre ameaçadoras e assustadas.

Outros passageiros, reagindo por fim, procuraram acalma-lo: “Não se preocupe, amigo, vamos ajudá-lo. Está precisando de um médico?”.

- Não! -continuou aos gritos - já vou sair! Não se aproximem!

E precipitou-se para frente, com a mão pingando sangue, ainda fechada contra o peito,

Mal passou a catraca sem pagar, estacou verdadeiramente aterrado: uma sirene gritava, aproximando-se rápido.

Sem mudar a posição da mão que sangrava, fez coro com a sirene, berrando alucinado:

- Que ninguém se aproxime! Tenho uma navalha e corto qualquer um que tentar me deter!

A postura de passageiros e condutores era de perplexidade. Não conseguiam entender nada. O homem estava mal, sangrando, apavorado e repelia violentamente qualquer tentativa de ajuda.

Por que fugia?

Não tinha cara de bandido, pelo contrário, era até simpático, alto, loiro, de cabelos crespos e olhos azuis.

Chegou até o motorista e intimou-o a parar o veículo, sob pena de receber uma navalhada.

Os policiais entraram antes que ele pudesse sair e, contrariamente ao que se pudesse esperar, não reagiu à voz de prisão. Levantou as mãos, deixando cair da esquerda, a navalha suja de sangue e da direita, um dedo anular feminino, unha pintada de cor violeta, portando dois belíssimos anéis

MCSobrinho
Enviado por MCSobrinho em 17/11/2008
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