SOLDADINHO
SOLDADINHO
Todos conhecem sua história e o veneram.
Naquele tempo, por lá, só a pé. Uns poucos se aventuravam a cavalo.
Dizem que ele saiu de Florianópolis com destino a Lages. Ia só, com seu fuzil, mochila às costas e no bolso uma ordem para permanecer destacado na cidade serrana.
Corria o mês de agosto, já nem lembram de que ano. Só que era agosto. Disso têm certeza, por causa das grandes geadas. As maiores já caídas por aquelas bandas.
Ele passou por Barracão ao entardecer. A noite caía mais fria que nunca. Não quis ficar. Jantou em casa do velho Pedro Jango e seguiu em frente, teimoso.
Nunca chegou a Lages.
Naquela noite muito galho de pinheiro caiu com o peso do gelo, muita casa ficou sem coberta. Muito bicho morreu no pasto.
Foi a maior geada de que se tem notícia por aqueles lados.
Três dias depois o soldadinho ainda estava sentado no meio da picada, abraçado ao fuzil, mochila presa às costas. Duro! Uma pedra de gelo! Se lhe batessem com alguma força, quebraria aos pedaços.
Foi Tonho quem o encontrou. Chamou gente e ali o enterraram. Na cabeceira da sepultura fincaram uma cruz de cedro, sem nome.
O lugar foi batizado de Soldadinho e por ali ninguém mais passou. Não que tivessem medo. Isso é que não.
Anos depois um fazendeiro comprou aquelas terras e reabriu a picada. Mandou roçar o terreno e seco o mato, ateou fogo.
A cruz não queimou. Surgiu das cinzas como um fantasma. Sem nome. Intacta.
Milagre! Milagre! Milagre!
Ninguém ousou duvidar.
O padre veio, rezou uma missa e benzeu o local com água benta.
Puseram flores na sepultura.
A cruz continua lá, perfeita, enfeitada, adorada. Agora com um nome: Soldadinho.
As curas começaram. Ninguém sabe o dia, só que começaram e isso chega.
O soldadinho virou santo. Fizeram-lhe uma capela e nunca mais foi esquecido.
A todos quantos lhe fazem promessa ele atende. As provas estão lá: fotografias, muletas...
MC Sobrinho