No cantinho da sala um homem ficava a roer o passado, com o isqueiro a catucar a cabeça e quando não a coçar um dos pés. Era sonhador, travesso e cheio de ilusões.
Teve uma infância meio conturbada e de forte emoções que o fazia pensar que a vida era para ser empurrada com a barriga, e assim o fez. Quando se desiludia tomava todas. Não perdia tempo, o líquido quente entrava escurecendo o dia. Ficou viciado por se juntar a certos companheiros de trabalho.
Bem, ele era interessante em seu ofício pois tinha que bater de porta em porta entregando cartas, era um carteiro dos Correios e Telegrafos. E costumava dizer: Carteiro, é o seu carteiro que não tem carta e nem dinheiro. Todos o achavam incrível, mas a safada da cachaça estragava tudo.
O Otávio, sim esse era o seu nome, também tinha sonhos e sempre dizia que ainda compraria pra si um Veraneio, carro da sua época.Sonho esse que nunca foi realizado. Morreu com esse desejo e outros mais.
Era um bom homem apesar das mazelas, só uma pessoa que se deixava dominar pelo o vício.
Esse vício ainda vai te levar dizia a sua esposa que já não aguentava mais de sofrer juntos aos quatro filhos.
Um belo dia a filha mais velha que havia saído de casa por não aguentar mais, voltou e não voltou só. Voltou grávida. Essa gravidez foi algo inesperado pela família que não admitia tal coisa. Porém, aquela família humilde e sem estrutura aceitou a filha de volta e o futuro rebento. Fazer o quê nessa altura dos acontecimentos era uma a mais para vivenciar dos desajustes familiares.
O tempo foi passando e com ela a vinda da criança tão esperada.
Afinal a vida de algum jeito tem que continuar e tudo enfim se resolveu dentro do contexto.
O nosso Otávio se dedicou completamente aquele bebê, ficou apaixonado, para elw foi um começo de uma nova vida, novas experiências.
Lavava as fraldas, passava e ninava aquele ser tão pequenino.
Vieram as primeiras doenças desse bebê, mas nada sério, só que um dia houve um problema que se repetiu por vezes e a preocupação tomou conta de todos. Uma infecção na garganta, muitas febres, madrugadas em hospital e nada. Isso deixava a criança desconfortável e tirava a alegria que era peculiar a os demais com a presença de um bebê novinho.
O Otávio como se pegou muito aquela neta põe-se a orar.
Senhor, meu Deus te suplico pela cura da minha neta. Ajude-nos. Se ela ficar boa prometo não mais beber álcool, não colocarei mais nenhuma cachaça em minha boca, só beberei água.
Assim foi. A partir da cura do bebê o Otávio se transformou, se tornou um novo homem. Álcool nunca mais e logo depois deixou também de fumar.
A sua dedicação pela neta foi até o dia da sua morte, pois so aceitou ir ao hospital quando ela pediu a ele.
Na porta do hospital antes de entrar na cadeira de rodas ele acena para ela com um adeus.
Segundo alguns um passarinho passava na frente do apartamento onde a neta morava e soltava um assobio idêntico ao dele.