envelope secreto

O latir de cães. O carteiro rasgava o monótono da manhã. O sol rebatia nos muros pichados. As rosas carentes, livres do pálido orvalho. A marcha de seus passos acompanhava o compasso de meu órgão involuntário. Às vezes o inverso. Fui à janela. Incontido. O mensageiro me deixava apreensivo. O chão negro de capilares. Faltava vizinho chato pra xingar. Xingar os mesmos, enjoa.

Aguardava o retorno do blem-blem do sininho preso ao portão. Bateu palmas. Gritou. O sininho: a salvação. Ansiedade em ascensão. Parecia mancomunado com minha alta dose de intrigação.

O latir de cães. Meu xingamento. O aguardo do carteiro. Outra casa. A ansiedade mais que nociva. Meus começaram a latir mais forte. Rosnavam tanto. Tive medo. Passará direto. Cheguei a pensar. Tempo psicológico em ação. Os ponteiros paralisados.

Aproximava-se da minha caixinha de correio. Ufa! Eu esperava como um louco. Mas pelo quê? Destranquei a porta rapidamente. Dane-se a roupa que vestia. Senti algo enroscado em meu corpo. Desci as escadas da área. Abri a caixinha. Era um envelope amarelo. Não muito grande. Apenas meu nome e endereço (que escassez, não?). Sem remetente.

Eu não aguardava nada especial, mas por isso não esperava. Haveria conteúdo? Seria algum conhecido testando minha ansiedade?

Cansei de esperar. Rasguei o envelope bem em cima. Rente à dobra. Os olhos cegamente invadiram aquele breu. Lá no fundo um papel branco.

Dobrado em várias partes. Perfumado. E que perfume. Fui desdobrando-o lentamente.

Quem vê pensa. Quase rasguei. Tamanha pressa. Nada de papel em branco. Para meu espanto. Algo sigiloso se encontrava escrito.

Fiquei boquiaberto. Olhei rapidamente para os lados. Ninguém vigiava. Por que justamente eu? Guardar um segredo tão especial.

Enfiei o papel no bolso. Corri pra dentro. Fechei a porta. Jurei. Estaria bem seguro comigo. E estava.

Por isso paro por aqui.

PS. Um aviso imprescindível: esta história contém nomes e lugares conhecidos. Não há mera coincidência. Os interessados na revelação de tal segredo escrevam para WWW.origemdaliteratura.com. Um abraço coletado no livro de Galeano. Isso talvez seja mera coincidência.

jeferson bandeira
Enviado por jeferson bandeira em 15/07/2008
Código do texto: T1080964
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