purificar
Descobri na essência alguns prematuros versos. Encalacrados na casca. Envoltos pelo fruto. Senti a presença do inesperado. Aos poucos me atirava à frente. As mãos viçosas se deixavam ir pelo brilho que saltava aos olhos. Mais tarde, tudo aquilo seria filtrado através de um trabalho. Ganharia outra expressão no papel. Tinha, na minha frente, a expressão unicamente divina. Sem o toque do poeta. Os versos indefesos e ingênuos. E quanta timidez por suas partes. Estavam desnudos. Eram puros. Eles sentiam vergonha frente ao meu olhar de desejo, de fascínio. E infelizmente um pouco de cobiça. Na mais pura natureza, me via imerso. Meus passos se tornaram leves. Reverenciava a natureza. Tinha a intenção de não perder nada. Havia ali, uma espécie de purificação. Tal era a hospitalidade, que os meus passos fugiam de meu controle. Não me aborrecia. Não me incomodava. Porém, gerava uma reflexão. O que faria eu com toda aquela beleza? Deixar tudo exposto à banalidade em que vemos o nosso mundo submerso? Seria cruel demais ver esta beleza transformada em escombros. Foi que me achei muito pequeno para tomar tal decisão. Mas se eu não tivesse força para tomar a decisão, não teria sido eu o escolhido para presenciá-la. A confusão foi tremenda em minha cabeça que adormeci. Não sei por quanto tempo. O que sei é que quando acordei a relva havia mesclado meu corpo com aquela terra rica. Céu! Tudo era tão mágico que adormeci novamente.