No Reino do Brasil
Sem que nenhuma narina notasse, - aliás, bem diferenciadas, muitas, inúmeras delas arrebitadas para o céu, outras tantas caídas para os bicos dos sapatos - havia algo de rançoso no jantar à meia-luz; o que foi desvendado por duas, serelepes moscas varejeiras.
Antes que os convidados suspeitassem de algo, tirei a gravata de bolinhas coloridas e dei-lhes duas puxadas bem dadas nas caras. Uma após a outra, caíram desfalecidas sem mais ter o que denunciar. Para o bem da verdade, tive pena das infelizes, afinal, a denúncia do fato rendeu-lhes a morte. Quietude: isso que chamo de "o silêncio dos ruidosos."
Na ponta dos pés e afinada sensibilidade na ponta dos dedos da mão, com uma pinça cirúrgica retirei-as de cima das carnes frescas. As asas de uma delas acabou escapando. Para evitar novos transtornos, liguei o ventilador.
Feita a trama, fui aplaudido pelo Rei. Disse-me depois que o que as narinas não farejam, os ouvidos ouvem e os olhos vêem. Terminada a cerimônia.
Agora, sim, com o salão vazio e silêncio absoluto, gargalhamos alto! Mas nem tanto, pois abstendo-se de zumbizar, uma infeliz mosca nos rendeu.