Infância

Num torvelinho cruzava o carrancudo corredor. Quase nunca, às vezes sempre, passeando passava, e pensando observava as paredes peladas e as portas fechadas:

- Nem quadro barato, nem retrato desbotado. Passa vento e bicho e gente. Não é à toa, tamanho mau humor! – de novo a passada apertava; sorrateira levava, nos pés as asas de Hermes, nas mãos uma banqueta perneta e uma tamanca banguela.

Quase perto, apenas dez passos. Deslumbrada sorria, e dava bom dia pro sol que vinha seus olhos beijar. Mais três passos. Por fim a risonha janela.

Cumprindo o ritual, na banqueta bailarina subia, apertando na bocarra da tamanca os pequeninos e frágeis pés. Num equilíbrio malabarístico, debruçava-se sobre o parapeito, e lá fora percebia, e em silêncio sentia, as coloridas flores da primavera ou as secas folhas do outono. Serenando suspirava:

- É preciso empenho para enxergar mudanças...

Ei! Psiu...

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