JUÍZO FINAL
Quase cinco horas, mais precisamente, cinco para as cinco da madrugada.
Bruscamente, o silêncio do quarto é interrompido pelo som do rádio-relógio digital: ... lá vem o sol, uma versão do Lulu Santos para uma antiga canção dos Beatles.
Apesar de desperto, não se levantou, deixando-se ficar deitado, a ouvir as notícias da cidade naquela manhã de segunda-feira.
Dez minutos depois, já de novo imerso em sono e sonhos, o rádio impertinente, travestido de despertador, voltou ao ataque. A música agora é um roque dos Titãs, Epitáfio.
Pronto, foi o quanto bastou para ele sentir-se morto de vez.
Assim, morto, atirou o rádio pela janela, tartamudeou a Marcha Fúnebre de Chopin e deixou-se ficar na cama, que elegeu por túmulo, até o momento de soarem as trombetas do juízo final.
- por JL Semeador, em 17 de agosto de 2009 -