UM DIA QUALQUER
Era um dia como outro qualquer. Desses que não têm cara, amorfos. Desses em que, ao se acordar, não se consegue dizer se é carnaval, natal, finados, ou mesmo uma azíaga segunda-feira.
Mesmo assim, ele insistiu em sair da cama; em tomar o seu café fraco e sem açúcar, passado sobre o pó antigo, ali no coador de pano desde ante-ontem; e em vestir suas roupas fedidas e amarfanhadas, há tempos esquecidas dos benefícios da água e sabão.
Mais tarde, na rua, último cigarro do maço apagado entre os lábios, notou que não conhecia aquela cidade escura e feia em que acordara; que nunca ouvira a língua estranha que os passantes desconhecidos falavam, que jamais fora aquele que agora andava sobre as próprias pernas.
- por JL Semeador, em 26/07/2009 -