Quinta-feira fim do dia!
Naquela quinta-feira ela saiu do trabalho, caminhou até o ponto de ônibus, ali permaneceu alguns minutos.
Sentia-se como que fazendo parte de um filme onde o enrredo surreal tornava tudo e todos extremamente obviamente surreais.
Nada lhe escapava, a velha senhora sentada no banco do terminal, os Josés, os Manés, a grande massa que naquele momento retornava euxaurida para lares.
Alguns tranquilos outros conturbados.
Ao descer em seu ponto, não desejava descer, queria prosseguir, mas para onde, para onde!
Chegou em casa, foi direto para o banho, somente os pingos de água quente aliviariam um pouco do peso que carregava.
Normalmente era alegre, ou fingia bem que o era.
Mas sabia os bêcos, as esquinas por quais transitou.
Ao sair do banho, parou em frente do espelho, limpou o espelho embaçado e tentou até sorrir.
Isolou-se em seu quarto, ligou o som, Legião Urbana, Índios!
Exatamente isto desejava, que "ao menos uma vez o mais simples fosse visto como mais importante".
Fechou os olhos e viajou, mas ao voltar, caiu na real, como Renato Russo cantou tão poéticamente:
"Nos deram espelhos e vimos um mundo doente".