Seu Berico
_ Corre Bento, corre!
Gritava a mãe na soleira da porta.
Os pingos grossos começaram tímidos mas aos poucos transformaram
em um cacau de assustar gente grande.
Bento adentrou o casebre, ali vivia com a mainha como chamava.
_ Fio nóis tem arresorve logo os papel lá do teu painho, faz um ano fio que o pobre....
Não conseguiu terminar a frase.
_ Óia mainha, a senhora tem paciência que tive assuntando com seu Tonho lá da venda e o home disse que num carece de percupassão, o tar de atesdado de óbito aqui pra essas banda nem faz farta!
_ E adespois mainha, é verdade verdadeira que painho morreu num é?
_ É fio isso é.
_ A mainha se aquiete que quem percisa sabe que o vivo agora é morto somos nóis, esse pessoar do governo nunca se importo cum nadica de nada quando painho tava aqui firme, forte, pelejando pra consegui uns empréstimo pra modo financia as prantação!
A mãe de Bento baixou a cabeça e matutou:
_ Vixi Maria, vixi meu padinho Cícero, o Bento num intende que o maior sonho do Berico era que o tar atestado de óbito, alembro bem o dia que me disse, tirando o chapér de páia da cabeça:
_ Muié, o dia que eu cai nas terra que cultivei a vida toda, ocê num esquece de aprovidência o meu atestado de óbito, afinar num existi minha vida intera, nunca fui arregistrado em nenhum cartório, nada mais justo que eu passe a existi quando num tive mais aqui!
Seu Berico homem simplório sonhava apenas em fazer parte do sistema, nem que fosse depois de morto!