João de Ninguém

Olhei bem dentro dos olhos daquele menino.

Olhos perdidos, ansiosos apenas por um sorrisso, sentei-me junto á ele, perguntei seu nome.

Quando a resposta veio, senti atingir-me, pelo punhal da indiferença.

_ Chamo-me João de Ninguém.

_Ninguém porque sou só, vivo nas ruas, meu pai foi morto pelo tráfico, minha mãe só Deus sabe, a última vez que ouvi falar dela, uns manos lá da quebrada, falaram que tava usando crak.

Então, João encostou sua cabeça no meu ombro e desabou a chorar, um choro doído, ferido, um choro que há tempos ouvimos, mas nada, nada fazemos.

Julia Lopes Ramos
Enviado por Julia Lopes Ramos em 05/01/2009
Reeditado em 16/02/2009
Código do texto: T1369389
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