João de Ninguém
Olhei bem dentro dos olhos daquele menino.
Olhos perdidos, ansiosos apenas por um sorrisso, sentei-me junto á ele, perguntei seu nome.
Quando a resposta veio, senti atingir-me, pelo punhal da indiferença.
_ Chamo-me João de Ninguém.
_Ninguém porque sou só, vivo nas ruas, meu pai foi morto pelo tráfico, minha mãe só Deus sabe, a última vez que ouvi falar dela, uns manos lá da quebrada, falaram que tava usando crak.
Então, João encostou sua cabeça no meu ombro e desabou a chorar, um choro doído, ferido, um choro que há tempos ouvimos, mas nada, nada fazemos.