O Jantar

Eram quatro. Sentados ao redor da mesa, curvados por cima

dos pratos, a raspá-los com as colheres. Metal contra

porcelana. Não falavam nada, apenas engoliam. Curvados sobre

o vapor dos pratos. O vapor a acariciar-lhes a face, a

amornar-lhes a pele. O odor de repolho invadindo as narinas.

E as colheres a raspar, e a soar. E os lábios a sorver, as

linguas a lamber. A sopa rola garganta abaixo amornando os

tecidos. As colheres gritam, os lábios se apertam e os olhos

boiam na sopa, sem destino.